Ciente do seu posicionamento proativo contra o racismo e pelo seu comprometimento com a democracia, o CPP apresenta como protagonista do Dia das Mães Priscilla Celeste, professora, tradutora e autora do livro “Do Outro Lado, do Lado de Cá” por viver e compartilhar sua atuação antirracista na educação e no empreendorismo social.
Ação racista que marcou a família
Em janeiro de 2013, Renan, então com sete anos e o caçula de cinco irmãos, acompanhava seus pais Priscilla e Roni até a loja BMW Autocraft, uma concessionária de carros de luxo. Interessado em um dos veículos, o casal conversava com o gerente enquanto Renan aguardava numa área de espera. De repente, a criança é abordada:
“Você não pode ficar, aqui não é lugar pra você. Saia da loja”, disse o gerente.
Ao perceber o desconforto, o homem se dirige ao casal: “esses meninos pedem dinheiro e incomodam os clientes”.
O casal se retirou da loja com seu filho Renan e denunciaram. O ato racista foi um dos primeiros a ganhar repercussão da mídia. A loja foi condenada por danos morais a pagar uma indenização de 22 salários- O dinheiro foi doado à Associação Nova Vida, instituição que apoia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
Portal CPP: O que a fez seguir uma jornada contra os impactos individuais e coletivos do racismo?
Priscila: Eu não sou uma mulher negra, eu não tenho as marcas que o racismo estrutural imprime na vida e na existência de uma mulher negra. Contudo, eu sou mãe de um menino negro e tenho as mesmas aflições de qualquer mãe de um filho negro tem em um país em que um jovem preto morre a cada 23 minutos vítima da violência”, explica Priscilla.
“Logo que o Renan chegou nós começamos a perceber o racismo velado dentro do nosso próprio círculo de relações. Fomos convivendo com o racismo, aprendendo e nos percebendo, até que nos conscientizamos de que era imprescindível estudar essa questão”, acrescenta a autora. “Um menino que você cria na infância dizendo: ‘se manifeste, se expanda, ocupe seu lugar no espaço’, de repente, chega na adolescência e você tem que dizer a ele: ‘não corra, não reaja, não coloque a mão no bolso porque alguém pode interpretar de forma errada’”.
Priscila Celeste e Roni Munk tem cinco filhos. O caçula é Renan, um jovem negro que, atualmente, tem dezesseis anos, “nasceu na família aos dois”, e foi com a sua chegada que essa família multirracial de classe média alta começou a vivenciar, “do lado de cá”, os impactos individuais e coletivos do racismo sobre “o outro lado”.
Como mãe e professora, qual a sua expectativa de viver em uma sociedade realmente proativa contra o racismo?
Priscilla fez questão de destacar uma frase da mestra em Filosofia Política e ativista Djamila Ribeiro, que diz “perceber-se é transformador.
“É preciso reestudar a história do Brasil, essa escravidão mal resolvida, todas as consequências e impactos dessa história sob uma outra perspectiva. É preciso que a gente estude e leia autores negros que o nosso universo branco não conhece, porque a escola não mostra, a universidade não mostra. Só a partir daí podemos dizer que temos um posicionamento proativo contra o racismo”, destacou Priscila, professora, escritora, tradutora e mãe.
Llivro "Do Outro Lado, do Lado de Cá", de Priscilla Celeste e Roni Munk.
Foto: Americam Adoption