13 de Maio: o que pensam sobre liberdade negros com história na última cidade a abolir escravidão

                                                                Nos 134 anos da Lei Áurea, o G1 reuniu relatos de pessoas da comunidade negra que vivem ou tem relação com Campinas (SP).

Considerada por parte dos historiadores como a última cidade brasileira a abolir a escravidão da população negra, Campinas (SP) detém justamente na principal rua do comércio no Centro a data simbólica que marca, nesta sexta-feira (13), os 134 anos da abolição garantida pela Lei Áurea.

Para relembrar o significado de 13 de Maio, o g1 reuniu depoimentos de militantes da comunidade negra sobre o conceito de liberdade no cotidiano. Veja abaixo relatos.

                                                                Reflexos da abolição tardia

A produtora cultural e criadora das Rotas Afro de Campinas e Piracicaba (SP), Julia Madeira, de 23 anos, conceitualiza liberdade como um valor relacionado a condições de vida que pode ser compartilhado em grupo. Ela também valoriza as diferenças entre a população negra.

                                                               “Liberdade para mim é poder ter estrutura, repertório e ferramentas para poder produzir cultura, vida, intelecto e futuro.

                                                                É eu poder sonhar, criar com a minha comunidade e para a minha comunidade. Esse conceito de liberdade não se aplica a todas as pessoas.

                                                               Primeiro porque somos diversos e nossos objetivos também são. Segundo, também que nossos lugares são muito diferentes”, afirmou.

 O bacharel em direito Alan Ribeiro, de 27 anos, ponderou que para ele fatores como extensão territorial e regionalização, em meio ao período de vigência da escravidão, contribuíram para que a comunidade negra tivesse       acessoaos direitos de liberdade de forma distinta ao longo do tempo.

                                                              “Um negro advindo de uma comunidade quilombola não tem o mesmo acesso aos direitos de liberdade
                                                               que o negro nascido e criado em uma comunidade na zona sul de São Paulo (…)

                                                               Os direitos de liberdade não são acessíveis e igualmente distribuídos na comunidade.”

Mestrando em história social da África pela Unicamp, Guilherme Oliveira, de 25 anos, destacou reflexos decorrentes da abolição tardia da escravidão por Campinas.

                                                              “A mentalidade do brasileiro, do paulista, do campineiro de 2022 ainda carrega heranças muito fortes da sociedade escravocrata do século XIX.

                                                               O fim da escravidão não significou o fim da desigualdade ou a plena inclusão da população negra na esfera política do Brasil.

                                                              134 anos não são suficientes para modificar totalmente um acontecimento histórico que durou quase 400 anos”

A trancista Marcela Germano, de 33 anos, avalia que o conceito de liberdade vai além do direito de ir e vir, e que as características fenotípicas não devem influenciar a forma como as pessoas são respeitadas.

                                                             “[Liberdade] É eu poder entrar dentro de um comércio, um estabelecimento e não ser seguida pela minha cor, pelos meu traços,

                                                              pela textura do meu cabelo ou pela forma de me vestir.Liberdade para mim é respeito”, contou Marcela.

O ex-goleiro e escritor Aranha, de 41 anos, afirmou ao g1 que as pessoas negras recebem tratamentos e têm acessos diferentes à liberdade, conforme a condição financeira. Ídolo da Ponte Preta, o atleta foi alvo de injúria racial quando atuava pelo Santos durante uma partida contra o Grêmio, em 2014.

                                                            “Eu tenho certeza que não tem como buscar direitos sem mostrar insatisfação.

                                                             Agora, a população negra começou a reagir, a cobrar e exigir os direitos”, frisou Aranha