Das 94 escolas da rede estadual paulista que serão fechadas no próximo ano, 30 tiveram, ao menos em um ciclo de ensino, desempenho superior à média do Estado no Idesp de 2014, principal indicador de qualidade da educação paulista. Além disso, 15 unidades que serão fechadas já têm só um dos três ciclos – fundamentais I, II ou médio, que é o que prevê a reorganização adotada pela gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).

 

A mudança foi anunciada em setembro, mas a lista das escolas que serão todos os alunos transferidos para outras unidades só foi divulgada nesta quarta-feira (28). Segundo a Secretaria da Educação do Estado (SEE), 25 dessas escolas são da capital, 20 da região metropolitana, 45 do interior e 4 da Baixada Santista.

 

A pasta ainda disse que 754 colégios passarão a ter só um ciclo de ensino no próximo ano – cerca de 20% deles na capital. Com isso, 2.197 escolas terão ciclo único na rede em 2016, o que representa 43% das 5.147 escolas do sistema estadual.

 

Entre as escolas fechadas há unidades com desempenho muito acima da média do Estado. É o caso da Pequeno Cotolengo de Dom Orioni, em Cotia, na Grande São Paulo, que funcionava em um prédio alugado. A unidade tem os três ciclos de ensino. E em todos teve desempenho superior à média paulista. A maior diferença de resultado em 2014 foi no fundamental II: a média do Estado foi de 2,62 e a escola atingiu a nota 3,87.

 

A Escola Professor João Nogueira Lotufo, na zona norte, já tem só um ciclo de ensino, o fundamental I (do 1º ao 5º ano). O colégio teve nota 6,1 no Idesp de 2014, enquanto a média estadual na etapa foi de 4,76. O argumento do governo Alckmin para reformar a rede é de que há escolas com espaços ociosos e, ao reorganizá-las, é possível melhorar a qualidade do ensino com unidades de ciclo único.

 

O fato de parte das escolas fechadas ter média maior no Idesp ou já abrigar ciclo único, para Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), mostra inconsistência nos argumentos da secretaria. “Não faz sentido apresentar reforma tão ampla sem um estudo detalhado.”

 

A secretaria afirmou que a prioridade para a “disponibilização” das escolas foi dada a unidades com mais vagas ociosas. Ainda disse que as 94 escolas fechadas são 1,8% da rede e os prédios continuarão a ter atividades educacionais. A pasta esclareceu também que o aluno que sai de um colégio com bom desempenho no Idesp será encaminhado para outro de perfil semelhante. Ainda não foi informado, no entanto, para quais unidades serão transferidos os estudantes.

 

Protestos. Desde o anúncio da reorganização, professores, pais e alunos têm organizado protestos quase diários em todo o Estado. Na Escola Miss Browne, na zona oeste, alunos fizeram um abaixo-assinado.

 

Estudante do 2º ano do ensino médio do EJA, Carlos André Brandão, de 34 anos, teme que a mudança de escola – que deve ficar a, no máximo, 1,5 Km de distância do prédio fechado – impeça que ele continue os estudos. “Trabalho à tarde aqui perto e saio em cima da hora. Se ficar longe, vou ter de parar de estudar. Essa mudança não faz sentido, a interação de alunos mais novos e mais velhos é positiva. Ajuda a amadurecer.”

 

Além das 754 escolas que passarão a ter só um ciclo em 2016, outras unidades da rede terão mudança gradual nos próximos anos. Segundo dirigentes de ensino parte das escolas deixará de oferecer matrículas da primeira série do ciclo a ser extinto (1º do fundamental I, 6º do fundamental II ou 1º do ensino médio). Em 2017, vão deixar de abrir vagas na série seguinte – e assim por diante até que o ciclo acabe.

 

Nesses casos, dizem os dirigentes, os colégios estão onde unidades vizinhas não têm capacidade para receber os alunos de uma só vez. A SEE não se manifestou sobre isso. Disse apenas que o processo de reforma é “contínuo e duradouro.”

 

Secom/CPP – informações do Estadão