No início da semana, defendi que o Prêmio Nobel da Paz não devia ir para ninguém ‘como um reconhecimento de que as notáveis erupções de violência foram horrivelmente previsíveis, resultado de anos de fracassos individuais e coletivo de governos e instituições internacionais’. Apesar desse sentimento, não faço objeção à decisão do Comissão Nobel norueguês de conceder o prêmio deste ano a Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi por, como o anúncio colocou, ‘sua luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação’.
O mais surpreendente sobre o prêmio pode ser o quanto ele não foi surpreendente. Malala foi mencionada como forte favorita pela imprensa antes do anúncio do prêmio. A garota de 17 anos, que levou um tiro de um taleban em 2012 por fazer campanha pela educação de meninas, tornou-se um nome familiar em todo o mundo, em especial depois de seu discurso na ONU e de escrever um livro de memórias.
Sayarthi, de 60 anos, um militante contra o trabalho infantil na Índia, é bem menos conhecido. Ele se destacou ao montar invasões de fábricas que empregam crianças além de dirigir um centro de reabilitação para crianças libertadas. Ele também organizou a Marcha Global contra o Trabalho Infantil.
Mas há um quê de irritantemente pretensioso e condescendente em parte da cobertura sobre a ‘garota mais corajosa do mundo’. Ela atingiu um ponto particularmente baixo quando, em The Daily Show, Jon Steward disse ‘Quero adotá-la’ a uma jovem que falou publicamente sobre o apoio que recebeu de seu pai – um sujeito muito corajoso por seus próprios méritos.
Mas esse problema é nosso, não dela, Minha suspeita é que alguém que fica confortável dizendo na cara do presidente dos Estados Unidos que suas políticas militares estão alimentando o terrorismo não vai se deixar ser reduzida a uma caricatura fofa.
E, seja como for, provavelmente foi sábio da parte da Comissão do Nobel juntar a celebridade global muito jovem a um ativista relativamente pouco badalado com anos de trabalho nas costas.
Por Joshua Keating/Slate – tradução Celso Paciornik – publicação O Estado de São Paulo, em 11 de outubro de 2014.