A presença da filosofia no currículo escolar é tão importante quanto as demais disciplinas, pois integra-se às outras; é essa soma das disciplinas que possibilita uma possível formação integral do estudante. E levanto este debate em momento oportuno, pois segue em andamento o processo de reavaliação do Novo Ensino Médio pelo Governo Federal. Rever esse modelo de ensino é essencial, afinal é importante pensar em novas disciplinas para o currículo, desde que não se despreze as que estão constituídas na história da humanidade, principalmente a Arte, Filosofia e Sociologia.
De forma mais aprofundada, a filosofia contribui no processo de ensino-aprendizagem por meio da problematização filosófica, pois soma-se a outras disciplinas para a formação crítica dos estudantes. E ser um cidadão crítico não é ter uma posição X ou Y, mas valer-se de argumentos objetivos e bem fundamentados na defesa dos próprios posicionamentos.
Outro aspecto, em relação à importância desta disciplina, é a emancipação da razão, do “ousa pensar por si mesmo”. Trata-se da autonomia de pensamento. Os estudantes são convidados a exercitarem o pensamento, a cada qual pensar por si próprio, sem a influência do professor ou de outrem, que os obrigue a pensar de determinada forma ou meio. É preciso questionar, debater, esta é a provocação filosófica.
Por fim, outra contribuição específica refere-se à capacidade de convivência com a pluralidade de ideias e pensamentos. A filosofia (como a conhecemos hoje) nasceu na Grécia e era praticada em praças públicas, no Ágora, local em que se debatiam assuntos a respeito do povo. Nesse ambiente, é importante saber expor opiniões, mas entender que, da mesma forma que se tem o direito de defender as próprias ideias, há a obrigação de respeitar o direito do outro que pode ter opiniões divergentes. A todo direito corresponde um dever. É assim que se exerce a verdadeira democracia.
Na realidade, todos nós pensamos de modo diferente e precisamos ser respeitados. Respeitar o outro não quer dizer concordar; mas sim, garantir o direito da livre expressão democrática em uma sociedade pluralista.
Em minhas publicações de artigos e livros, tenho defendido uma compreensão do ensino de filosofia como experiência filosófica. E isso quer dizer que não se trata de um ensino fixo, rígido e enciclopédico (que transmite apenas conteúdos), mas, sim, que consiste em experiência do pensamento conceitual. Enfim, o professor de Filosofia apresenta temas e a história da filosofia para ajudar o aluno a posicionar-se diante do mundo cotidiano, a partir de uma experiência do filosofar (que não é dogmática), capaz de possibilitar o filosofar questionando aquilo que parece óbvio.
* Fábio Antônio Gabriel é licenciado em Filosofia e Pedagogia, Mestre e doutor em Educação. É professor da educação básica há mais de 16 anos e autor do livro “O ensino de filosofia enquanto experiência filosófica”.