A matéria de José Pastore, publicada no jornal O Estado de São Paulo, em 6 de maio de 2014, aponta uma perspectiva de uma sociedade cada vez mais repleta de idosos. Com o título “A invasão dos idosos”, ele faz uma análise e compara a realidade brasileira com a de países desenvolvidos. Para o autor, a conclusão dessa reflexão é que “do bom ensino de hoje nascerá a esperança de contarmos com idosos qualificados e produtivos que, por volta de 2040, somarão mais de um terço da população brasileira. Do contrário, veremos mantido o lamentável e indesejável contraste do quadro atual. Confira:
“Com esse título instigante, o último número da revista The Economist apresentou uma interessante análise do envelhecimento da população mundial (Age invaders, 26/04/14). Li esse artigo de olho na situação do Brasil, em especial, no campo do trabalho. Diz o bom senso que os idosos são menos produtivos. Entretanto, a referida análise trouxe surpresas animadoras. Nos países desenvolvidos, as pessoas de 60 anos e mais estão trabalhando por muito tempo. Entre os americanos, a proporção de idosos que permanecem em atividade subiu de 13% no ano 2000 para 20% nos dias atuais e entre os alemães passou de 25% para 50%. São pessoas de 65, 70 e 75 anos – e até mais – que continuam em atividade e que gostam do que fazem.
Outra constatação: os idosos bem educados têm um nível de produtividade muito alto porque as suas atividades se baseiam mais no conhecimento do que na musculatura. Em consequência, eles ganham mais, poupam bastante e dão menos despesas ao Estado. Na França, muitos idosos de 80 anos são ativos e poupam 134% mais do que as pessoas de 55 ou 60 anos.
O que eleva o prolongamento da vida profissional dos idosos é a boa educação. Nos Estados Unidos, entre os que têm curso superior, 65% continuam trabalhando; entre os que ficaram só com o ensino médio, são 32%. Na Europa, as proporções são de 25% e 50% respectivamente. São números impressionantes e de significado profundo, pois esses idosos estão longe de constituir um fardo pesado e improdutivo para a sociedade, comprovando-se que a educação faz a diferença em qualquer idade.
E o Brasil? Lamento dizer que estamos mal na foto. A proporção de homens e mulheres idosos no mercado de trabalho é irrisória e subiu muito pouco. Entre 1992 e 2012, a proporção de homens com mais de 60 anos que trabalhavam subiu de 7% para 8% e entre as mulheres ficou estável em 5,8%. São proporções muito baixas em face das encontradas nos países avançados.
No que tange aos idosos bem educados, o problema não é menor. A parcela de brasileiros que passaram por curso superior e continuaram trabalhando aumentou de 3% para 9% no período indicado. O contraste é enorme em relação aos Estados Unidos e à Europa.
O fato é que os idosos brasileiros são muito diferentes dos idosos americanos ou europeus. Em 2012, 27% dos idosos brasileiros eram analfabetos! Cerca de 40% tinham quatro anos de escola ou menos. E apenas 9% tinham curso superior completo ou incompleto. Com esse nível educacional, é impossível trabalhar na sociedade do conhecimento que exige versatilidade, bom senso, agilidade mental e domínio de tecnologias modernas.
Qual é a lição para o Brasil? Que precisamos educar seriamente os nossos jovens para que eles possam formar uma geração de idosos bem preparados, capazes de trabalhar por muitos anos, ganhando bons salários, formando suas poupanças e adiando ao máximo as despesas para os sistemas de saúde e de previdência social.
Nesse campo, o nosso desafio é gigantesco. Os jovens que estão na escola hoje e que serão os idosos de amanhã enfrentam problemas gravíssimos. Os próprios professores estão envelhecendo depressa, sem que sejam substituídos por profissionais à altura das novas necessidades educacionais. O desânimo pela carreira do magistério é inegável. Não é à toa que os nossos jovens se saem muito mal nos testes que medem sua capacidade de raciocinar, ler e escrever corretamente. Na última avaliação do Pisa, ficamos em 38.º lugar entre 44 países pesquisados.
A lição é essa. Do bom ensino de hoje nascerá a esperança de contarmos com idosos qualificados e produtivos que, por volta de 2040, somarão mais de um terço da população brasileira. Do contrário, veremos mantido o lamentável e indesejável contraste do quadro atual.
*José Pastore é professor de Relações do Trabalho da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomércio-SP e membro da Academia Paulista de Letras.
Olá, prof. Pastore, que alívio ! Imaginei outra crítica aos idosos! Mas, me imaginei como uma intrusa, porém vc me deixou tranquila ao saber que quanto mais tempo passa, mas o idoso vive mais. É uma pena que não se faz mais professores como antigamente. Ainda bem que sou antiga… (7.4) e me orgulho de tantos homens e mulheres , os quais formei com esses ensinamentos antigos, mas verdadeiros. Parabéns, pelo artigo escrito e me sentindo mais útil agora, tive a coragem de escrever-lhe, coisa que antes não fazia, Sou aposentada há 15 anos e quase perdi a vontade de expressar meus pensamentos, observando o tratamento jocoso feito aos idosos como eu, por me sentir já “fora de cena” ao ambiente escolar, pois me aposentei para ficar em casa, que coisa triste! Agora, com suas palavras voltei a me interessar por atividades esportivas. Obrigada mais uma vez. Sonia de Oliveira Monte.