Agora é hora de respeitar a voz das urnas. A mais virulenta campanha eleitoral da história recente do Brasil enfim terminou ontem, (26/10), com a vitória da presidente Dilma Rousseff, do PT, para mais um mandato. A todos os eleitores, vitoriosos ou derrotados, resta agora deixar o ódio de lado para exercer o legítimo direito de cobrar do eleito os compromissos assumidos na campanha para que, de fato, o Brasil possa sair dessa eleição melhor do que está hoje. Não será fácil, mas é o que se impõe ao País.
Escola em tempo integral, ensino técnico e profissionalizante para todos. Muito mais médicos, postos de saúde, hospitais, saúde de primeiro mundo gratuita. Mais segurança . Melhor controle das fronteiras. Mais rigor no combate ao tráfico de drogas, de armas, de órgãos, de pessoas. Melhorias na vida dos aposentados e novas regras para a Previdência. Remédios, alimentos e bens de primeira necessidade mais baratos e acessíveis. Investimentos em infraestrutura, estradas, aeroportos, portos… Combate incessante à seca, à fome e à miséria. Manutenção e ampliação dos programas sociais de transferências de renda, de acesso à moradia popular, de saneamento básico. Menos impostos. Queda nas taxas de juros. Controle dos gastos públicos. Olho vivo contra a inflação. Crescimento sustentável. Pleno emprego. E a tão necessária tolerância zero com os crimes de corrupção…
Foram tantas promessas de palanque, tantas as mirabolantes soluções apresentadas pelos dois candidatos que chegaram ao segundo turno, que certamente esta será uma nação muito melhor se pelo menos metade do que se prometeu possa de fato ser cumprido ao final de mais um mandato. Mas, se já não era fácil alcançar esses objetivos num cenário de paz, estabilidade econômica e ordem política, certamente o próximo presidente terá mais dificuldade diante do rastilho de pólvora deixado por uma campanha que dividiu o país.
No auge da disputa, os dois candidatos adentraram de forma irresponsável para o território do vale-tudo. Também entre os eleitores, o clima bélico no qual se desenrolaram as últimas semanas de eleição, sobretudo no perigoso e apócrifo ringue das redes sociais, ganhou notas de intolerância, motivadas pelo ódio mútuo.
Caberá agora ao novo presidente assegurar um patrimônio construído a duras penas desde os tempos do império, que é a unidade nacional. Não por ameaças infundadas de separatismo, manifestações folclóricas e tímidas demais diante da firmeza da democracia no Brasil, mas pela manutenção de um federalismo sadio e respeitoso. O Brasil deve avançar com a consciência de que é mais forte com a união e de que nada ganha com a existência de ilhas de riqueza rodeadas de pobreza extrema. Para atingir este propósito, o eleito deve se despir de qualquer sentimento revanchista. Assim é o jogo democrático, que impõe que a minoria respeite a voz da maioria e que esta, por sua vez, não exclua quem esteve do outro lado.
Parabéns pela vitória, presidente Dilma! Adiante, Brasil!
Editorial do jornal Diário de S.Paulo, publicação desta segunda-feira (27/10).
Secom/CPP