No total, órgão pede ao Supremo revisão no pagamento de dívidas que somam R$ 15,6 bi

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenda a ordem dada à União para pagar dívidas judiciais com Estados relativas a repasses do Fundef, o fundo para o desenvolvimento do ensino fundamental e valorização do magistério que vigorou até 2006. O jurídico do governo também solicitou ao presidente do STF, Luiz Fux, que abra uma conciliação sobre o tema.

O pedido foi dentro de uma Ação Cível Originária (ACO) movida pelo Estado da Bahia, que tem R$ 8,767 bilhões a receber do governo federal em 2022. A própria AGU, porém, já antecipou no documento que ingressará com solicitações semelhantes em outras três ações, movidas por Pernambuco, Ceará e Amazonas. Ao todo, o pedido alcançará R$ 15,6 bilhões em precatórios previstos no Orçamento do ano que vem.

Caso Fux aceite o pedido, União e Estados poderão negociar um acordo para o pagamento da dívida após a Corte ter reconhecido que os repasses foram menores no passado. A conciliação abriria caminho a uma possibilidade de parcelamento amigável da dívida. A medida adotada pela AGU é mais uma investida do governo para tentar conter o “meteoro” de dívidas judiciais previstas para 2022. O termo usado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para se referir à fatura de R$ 89, 1 bilhões em precatórios calculada para no ano que vem.

No início do mês, a equipe de Guedes apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a possibilidade de parcelamento de todos os precatórios acima de R$ 66 mil. Uma regra permanente estipula o pagamento em prestações de todas as dívidas maiores que R$ 66 milhões. Para débitos entre esses dois valores, a regra de parcelamento seria transitória, até 2029.

Resistência

A PEC tem enfrentado resistências de diversos grupos, entre eles parlamentares, economistas, agentes do mercado financeiro e representantes dos Estados. O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega disse ao Estadão/Broadcast que a medida significa “calote” nos credores da União. Guedes rejeita esse “selo”, mas defendeu o parcelamento. “Devo, não nego, pagarei assim que puder”, disse o ministro em evento recente. Ao pedir suspensão do pagamento da dívida com a Bahia, a AGU argumentou que apenas quatro dívidas do Fundef reconhecidas em junho deste ano pelo STF somam R$ 15,6 bilhões. O órgão jurídico cita considerações feitas pela Secretaria Orçamento Federal do Ministério da Economia para dizer que o valor corresponde a 26% do total de precatórios apresentados contra a União para previsão no Orçamento de 2022.

A única regra de parcelamento prevista hoje na Constituição define que um precatório que represente sozinho 15% da dívida total naquele ano pode ser pago em prestações. Na prática, é muito difícil isso ocorrer. Por isso, a AGU apresentou o argumento de que o tema do Fundef, de forma global, preenche o requisito atual de parcelamento. A AGU  também cita que a legislação permite acordos diretos para pagamento de precatórios. Há  a avaliação de que uma negociação direta com os Estados poderia ser mais produtiva. AGU e Ministério da Economia estão em “pé de guerra”. Guedes disse que sua equipe foi “surpreendida” com a fatura de R$ 89, 1 bilhões. No entanto, há documentos da AGU avisando da possibilidade de expedição das ordens para o pagamento desde 2020.

Fonte: O Estado de São Paulo