Ainda é cedo para tirar conclusões definitivas sobre o acerto ou não do programa Mais Educação, apresentado nesta semana pela Prefeitura de São Paulo como uma alternativa de impacto que vai melhorar a qualidade do ensino municipal. Como era de se imaginar, o plano de reorganização curricular e administrativa divide a opinião de educadores, professores, pais e alunos e só sua aplicação vai dar a resposta que se espera. De todo modo, deve-se elogiar o esforço de mudança e a tentativa de elevar a qualidade do ensino.
Só os números do Ideb 2011 (Índice de Desenvolvimento da Educação) bastariam para justificar a necessidade de uma revisão no processo. Mesmo sendo a cidade mais rica do Brasil, São Paulo aparece no vergonhoso 35o lugar no ranking entre as 39 cidades metropolitanas avaliadas pelo Ministério da Educação. Pior: segundo diagnóstico da Prefeitura, apenas 34% dos alunos apresentam conhecimento adequado em língua portuguesa e 27% em matemática. É como se, às portas da faculdade, a maioria dos estudantes paulistanos chegasse ao vestibular próximo do analfabetismo funcional.
Para muitos especialistas, o modelo de progressão continuada, adotado no estado há 21 anos, é o principal responsável por esse estado de quase falência da escola pública. Sob a alegação de que a repetência contribuía para a evasão escolar, esse sistema permite que os alunos sejam aprovados mesmo sem ter absoluto domínio dos conteúdos didáticos. O novo modelo mexe nesse ponto e aumenta de duas para cinco a possibilidade de retenção caso o aluno não apresente evolução. Acredita-se que, com isso, o filtro impedirá a criança a chegar aos 8 anos sem estar alfabetizada. O contraponto dessa tese é o risco de que a novidade desenterre a indústria da repetência, o que estimularia a debandada de alunos despreparados. Neste caso, o efeito pode ser tão ou mais cruel que o da progressão continuada.
Para dar certo, é preciso que as novas diretrizes garantam um acompanhamento pleno do desenvolvimento do estudante. Nesse sentido, também parece louvável o resgate de tradições escolares abandonadas nos últimos anos, como a realização de provas bimestrais, dos boletins com nota de 0 a 10, dos relatórios de acompanhamento, da lição de casa e das aulas de recuperação nas férias. São marcos que podem dar referências ao professor e ao aluno daquilo que precisa ser ensinado e do que precisa ser aprendido.
É lógico, no entanto, que a simples mudança dos critérios de avaliação não fará alunos melhores ou piores. As notas de 0 a 10 ou os conceitos hoje em vigor são só um termômetro da produção do aluno. E isso não vai mudar se a qualidade do ensino não mudar. É preciso caminhar para a escola em tempo integral, para a melhor formação dos professores, para o fortalecimento dos vínculos da escola com a família e para a inclusão dos jovens que hoje estão fora da sala de aula. Como se vê, ainda falta muito para que todos mereçam nota 10.
Editorial do Diário de São Paulo de ontem (18 de agosto)
SECOM/CPP