Tem aluno estrangeiro em sua escola?
Desde maio de 2017, o Brasil dispõe de uma nova Lei de Migração adotada em substituição ao antigo Estatuto do Estrangeiro. Dados da Polícia Federal, referentes a janeiro de 2016, apontam que no Brasil vivem 1.033.257 pessoas que vieram de outros países.
Segundo a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, “o maior número de alunos estrangeiros está no estado”, com 34,5% do total do país. São 10.298 matriculados – 15% maior do que o registrado em 2016.
O Portal CPP conversou com cinco adolescentes que vieram de diferentes partes do mundo em busca de oportunidades melhores para a família.
São alunos da E.E. Professora Marina Cintra, no centro da capital paulista, que compartilharam suas experiências, expectativas e sonhos.
O paraguaio Alex tem 11 anos e vai completar um que chegou ao Brasil. Fala bem português. Quase sem sotaque.
Piaruchu é indiano. Tem 13 anos e há seis meses veio da Índia. Ainda não fala português, mas conversou com a reportagem em inglês.
Jhenny está no Brasil desde 2016. Tem 16 anos e veio do Haiti. Estuda no 9º ano. Extrovertida, fala bem português com uma pitada de sotaque francês.
Ye é chinesa, tem 14 anos e está no 6º ano. O esforço de falar português é grande. Aprende bravamente.
A colombiana Derly tem 14 anos e há dois anos está no Brasil. Completamente inserida no Grêmio Estudantil, domina bem o português. Seu sotaque discreto.
Quando chegam à escola, os estudantes enfrentam muitos desafios. O idioma é o maior. Para educadores, um exercício de inclusão.
Reúnem a família, arrumam as malas e embarcam para o Brasil. Por quê?
Alex: No Paraguai não tem muito trabalho.
Piaruchu: Meu pai arrumou trabalho aqui.
Jhenny: Meus pais já estavam aqui. Não tinha ninguém para ficar comigo em meu país. Minha mãe resolveu me buscar para eu ficar mais perto da minha família. Tenho uma irmã que nasceu no Brasil.
Ye: Primeiro veio a minha tia, da China. Depois minha mãe e eu para ficarmos juntas.
Derly: Minha mãe é aeromoça. Não estávamos muito bem lá. Então a empresa onde ela trabalha a transferiu para o Brasil.
Sonhos sem fronteiras. Qual o seu projeto?
Alex: Pretendo ficar aqui para ajudar meu pai, que é técnico de celular, no trabalho.
Piaruchu: O aluno indiano pretende ficar mais dois anos no Brasil. Talvez volte para a Índia ou vá para os Estados Unidos. Gostaria de ter um bom emprego e trabalhar como engenheiro.
Jhenny: Vou ajudar meus pais e amigos. Gosto muito de escrever. Gostaria de ser compositora ou jornalista.
Ye: Quero ficar aqui, terminar os estudos e ajudar minha mãe a trabalhar com roupas.
Derly: Espero terminar os estudos, fazer uma faculdade, ficar com a minha mãe seguir a mesma carreira dela, que é aeromoça.
A primeira adversidade na escola
Alex: Para mim, o primeiro problema era falar com os meninos. Não entendia a língua.
Piaruchu: Pelo pouco tempo em que está na escola, o maior problema é o idioma.
Jhenny: Logo no começo, tinha um menino na aula de ciência que ficava falando de mim. Eu não sabia se falava bem ou não. Os alunos riam. Então, a professora mandou que saísse da sala. Minha mãe falou para eu não ligar. Para me ajudar, o professor Manoel, de história, me deu um dicionário.
Derly: Minha maior dificuldade foi a timidez de falar. No primeiro dia de escola cheguei um pouquinho atrasada. Viram que eu não era brasileira e começaram a olhar para mim. Me sentei na última carteira. Era aula de português. Todos vieram para cima de mim. Isso me sufocou e fiquei ainda mais nervosa.
Ye: Quando cheguei aqui na escola, tinha uma professora de artes que perguntou para minha irmã como se fala em chinês. Elas falavam português entre elas. Eu não conseguia entender. Escrevia um pouco, mas não sabia falar.
Saber se colocar no lugar do outro
Sob direção de Tina Bertholo, a E.E. Professora Marina Cintra dispõe de 1.300 alunos com uma característica bem peculiar: são estrangeiros e de famílias de outros estados da federação.
“Temos uma grande diversidade de nacionalidades. Alunos da Coreia, China, Estados Unidos, Paraguai, Bolívia, Peru, Congo, Argentina, Chile, Índia, Angola e Equador. Todos da escola são solidários. Há um companheirismo muito grande. Todos querem ajudá-los na adaptação. As famílias mantém firme o elo com a escola. Trabalhar com eles é um enriquecimento grande. O que mais me satisfaz é ver a evolução deles. É aprender a cada dia. Cada aluno que chega com aquela carinha de assustado, me pergunto: e se fosse meu filho?”
Para os educadores, um exercício de inclusão, solidariedade e respeito
Marcos Kastim, professor de português e coordenador: “Quando o aluno estrangeiro chega é adaptado na série em que deve ser inserido. Fazemos uma sondagem para ver se há necessidade de um reforço paralelo, no idioma, por exemplo. Indicamos centros beneficentes que fazem esse suporte. Em sala de aula também é feito.”
Liliana Janovik, supervisora de ensino: “A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo trabalha com a questão do acolhimento e inclusão. Há orientações específicas para acolher o aluno, estrangeiro ou não.”
E.E. Professora Marina Cintra
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