Em seu discurso de posse como ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT) disse: “Devemos nos contentar com programas incrementais ou devemos ousar, inovar e dar salto de qualidade? Temos de dar o salto. A hora é agora”.
Dois anos depois, o que se sobressai são programas incrementais e melhoria na execução de projetos herdados. Não houve ações estruturantes que atacassem os grandes gargalos, como a baixa qualidade do ensino médio ou a baixa atratividade do magistério.
Uma de suas vitórias foi aprimorar a execução do Enem. O histórico do exame era de furto de provas, erro de impressão e gabaritos errados. Na edição do ano passado, com incríveis 7 milhões de alunos, pela primeira vez não houve grandes crises.
Ainda a seu favor, há o projeto para melhorar a alfabetização –a principal ação é a formação dos educadores, aos sábados. Ele também achou uma solução para apressar a construção de creches, com o modelo pré-moldado.
Por outro lado, não conseguiu reformular a pior etapa do ensino brasileiro, o ensino médio. A necessidade de mudança foi apontada por ele mesmo. O currículo segue “enciclopédico” e fragmentado em mais de dez matérias, o que desestimula os alunos.
Como na alfabetização, a saída para atenuar o problema foi dar bolsa (R$ 200/mês) e formação aos docentes.
Também não houve grandes avanços na melhoria do perfil de educadores da rede pública. Nem o piso salarial nacional é cumprido em todos os Estados e municípios.
O corpo docente segue formado por jovens que tiveram os piores desempenhos no ensino médio e, por causa da carência de profissionais, mais da metade não tem diploma na matéria que leciona.
Mercadante deixa a pasta sem uma grande marca, como seu antecessor, Fernando Haddad, alcançou com o Prouni. Nos dois primeiros anos, Haddad criou um plano que atacou do ensino infantil à pós-graduação, incluindo prova a todas as escolas públicas.
Por outro lado, deixa a Educação sem atravessar nenhuma grande crise, como foi o Enem para Haddad.
Por Fábio Takahashi -jornalista da Folha de São Paulo