Um recorte de “Cotidiano” (26/2) caiu-me de novo às mãos. Reli-o e o gosto de cabo de guarda-chuva na boca se repetiu. Num shopping em bairro dito nobre de Brasília, dois jovens, sem paciência para enfrentar a fila do banheiro, resolveram urinar na parede do lado de fora. Senhoras e crianças passavam por ali. Um homem que assistia à cena – um professor – protestou. Os rapazes não gostaram de ser repreendidos e seguiu-se a briga.

 

Um golpe na cabeça, talvez uma garrafada, mandou o professor ao chão, desmaiado. Dali, os dois participaram para a finalização – socos, pontapés e mais garrafadas sobre ele. Ninguém defendeu o homem caído. Finalmente, o massacre cessou e o professor foi levado para um hospital particular. Os médicos atestaram traumatismo craniano, mandíbula quebrada em duas partes, três coágulos no cérebro e movimentos do lado esquerdo paralisados.

 

Os agressores foram presos e indiciados por tentativa de homicídio, agressão por motivo fútil e impossibilidade de a vítima se defender. Um dos jovens já tinha uma condenação por roubo – que, naturalmente, cumpria em liberdade. Segundo a delegada, ele não parecia arrependido. Preocupava-se somente com a sua situação legal.

 

Como disse, isso aconteceu em fins de fevereiro. Recortei a notícia e esperei pelos desdobramentos. Mas, nos dias seguintes, o assunto sumiu do noticiário. Eu próprio o esqueci – até ontem, quando dei sem querer com o recorte e fui ao Google, em busca de mais informações. O professor se salvou? Passa bem? E os agressores, continuam presos ou já se beneficiaram da nossa Justiça, que não descansará enquanto não inocentá-los?

 

Mas não há nada de novo sobre o caso no Google. A história morreu. Passamos da bestialidade à banalidade. Como acontecem todo dia, agressões como essa saem agora na urina.

Por Ruy de Castro, colunista do jornal Folha de São Paulo

Secom/CPP