Marco Antonio Teixeira

Parece que a Câmara Municipal vive uma realidade diferente da do restante do País. Aumentar salário hoje sem considerar nenhuma contrapartida, como corte nas despesas internas, é uma afronta à sociedade. O problema não é o aumento em si, mas a forma como ele se deu. Este projeto não teve publicidade. A sociedade não foi avisada pela Câmara que os vereadores queriam aumentar os próprios salários em plena crise econômica, numa votação que pegou a todos de surpresa depois que o principal candidato a presidente da Casa havia dito que a proposta não entraria mais em pauta em 2016. A sociedade não foi, desta forma, chamada a opinar, a participar.

 

A aprovação foi resultado de um acordão entre partidos, reunindo representantes da oposição e da base do futuro prefeito João Doria (PSDB), que, aliás já se manifestou contrário a qualquer tipo de aumento e anunciou que vai cortar despesas para realizar seus projetos, como manter a tarifa do ônibus congelada em 2017.

 

A Câmara rema contra a maré. Além de não cortar despesas, aumenta salários e o próprio Orçamento em R$ 30 milhões. Precisa mesmo de tudo isso? Vale a pena virar as costas para a sociedade, para os problemas do País e para a opinião pública? A votação de ontem mostra que, quando o tema é de interesse próprio e não público, o comportamento é outro.

Marco é cientista político, professor da FGV-USP