Certa da importância  do futebol como agente de estímulo à criatividade, disciplina e sociabilidade na criança, a Secom – Secretaria de Comunicação do Centro do Professorado Paulista – se propôs a apresentar aos educadores uma série de matérias para serem usadas como material de apoio em sala de aula, a fim de  estimular os alunos a explorarem o assunto em suas matérias curriculares.

O primeiro a ser veiculado foi o Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Na sequência, a Secom apresenta a Seleção Brasileira de Todos os Tempos, exposição que  recebe da mídia especial atenção por sua criatividade.

Organizada pelo Sesc do Carmo, a mostra reúne obras do artista Dodô Vieira, que caricaturou jogadores de diferentes gerações do futebol brasileiro que tiveram participações em Copas do Mundo.

A proposta de Ubiratan Nunes Rezende, historiador e técnico do Sesc do Carmo, é que o visitante  vote em seu atleta preferido para compôr a Seleção Brasileira de Todos os Tempos a partir das  caricaturas do  Dodô. Após o resultado, os titulares desta seleção serão expostos no Sesc do Carmo.

A Secom foi à exposição, registrou o grande sucesso e ouviu o público:

“Achei muito legal resgatar a memória dos atletas para que não fique esquecida. Esta é a segunda Copa que o Brasil vai sediar. Espero que o país não passe vergonha. Acho que não haverá nenhum legado. As obras estão atrasadas. Quanto à exposição, está muito bem feita. Valeu!” – declarou Rômulo Bergamo, de São Paulo – SP

 

“Muito interessante e bem feita. É uma mistura bem legal dos atletas do passado com os atuais.
Quanto à Copa, torcemos para que o resultado seja positivo em todos os sentidos” – afirmaram Rodrigo e Tatiane, ambos de São Paulo – SP. 

 

Em nome do Centro do Professorado Paulista, a Secom agradece a todos os entrevistados,  especialmente o caricaturista Dodô Vieira e Ubiratan Nunes Rezende, historiador e técnico do Sesc do Carmo, pela gentileza e atenção. Tendo em vista a riqueza do material disponibilizado pelos organizadores do evento, publicamos a reportagem em duas partes. Anteriormente, foi publicada a entrevista de Dodô Vieira e de outros visitantes da exposição.

 

Perguntas ao historiador Ubiratan Nunes Rezende

 

Secom: Como nasceu a ideia de reunir os jogadores que marcaram época da história do futebol brasileiro em Copas do Mundo?

Ubiratan: A ideia faz parte dos programas de estímulo à prática esportiva e difusão da cultura esportiva que o Sesc SP adota em suas campanhas Sesc Verão e Move Brasil. A cada ano, essas campanhas ganham um conceito que pode ser trabalhado de maneiras diferentes. A equipe do Sesc Carmo vislumbrou a possibilidade de inserir o tema da Copa do Mundo em um viés que unisse emoção, razão, humor e participação com a eleição dos melhores jogadores brasileiros participantes em Copas do Mundo. Naturalmente, a ideia não é nova (muitos já fizeram eleições dos melhores jogadores no Brasil e em diversos lugares do mundo), mas a discussão e o engajamento das pessoas pode servir como uma porta de entrada para elaboração de argumentos que justifiquem a presença ou a ausência de determinados nomes, e assim estimular a busca de informações por meio das ferramentas virtuais, livros, revistas, como também no exercício de ouvir os mais velhos sobre o futebol de sua geração. O importante neste caso é destacar que, de modo geral, os que acompanham futebol ou gostam têm suas predileções e os critérios de escolha nem sempre obedecem a critérios objetivos. Portanto, estamos em um território onde todas as opiniões são válidas e todos devem e podem ser ouvidos. Como nas eleições, cada voto vale exatamente o mesmo. É uma experiência democrática.

Secom: O que a nova geração de jogadores deveria aprender com os veteranos?

Ubiratan: Há muita nostalgia em relação ao futebol de hoje e o futebol do passado. Alguns citam o amor à camisa, seja do seu clube ou da seleção nacional; Outros costumam lembrar do ritmo diferenciado, da valorização das qualidades técnicas e inatas, do valor do drible, do futebol-arte (uma construção ideológica, procurando identificar certas práticas brasileiras: capoeira, samba, malandragem e improvisação com um certo caráter nacional) em oposição ao futebol-força dos europeus, em geral. No entanto, o que percebemos é que muita coisa mudou no futebol em termos de profissionalização. A espetacularização do jogo criou diversas camadas de interesse; há uma supervalorização da parte física, corre muito mais, o desgaste é enorme e a qualidade técnica do jogo tem sido questionada por leigos e especialistas. Parece que o objetivo do jogo, os gols, tornaram-se um detalhe, como disse certa vez um conceituado treinador brasileiro. O importante é destruir, impedir o outro de criar, não correr riscos, não improvisar, não driblar, não inventar, não ter alegria, enfim, não pensar como exigem os tempos atuais da reprodução de modelos em série, a cultura de massa e o consumismo exacerbado.

Secom: Qual o legado deixado por jogadores participantes de antigas Copas para esta nova geração?

Ubiratan: Eu penso que o legado, neste caso, apresenta aspectos positivos e negativos. Algumas gerações do passado são hoje presenças constantes nos panteões dos deuses do futebol, serão lembrados enquanto houver alguém que os tenha visto jogar futebol ou se preserve as imagens (raras) dos tempos em preto e branco, dos primórdios da TV ou das incríveis narrativas do rádio, com sua imaginativa interpretação da realidade que encantaram inúmeras gerações e ainda hoje tem importante penetração no imaginário coletivo. Então, conquistar um lugar entre os que serão lembrados no futuro é um peso enorme. As comparações também, porque não basta para o Brasil vencer, considera-se que iniciamos um estilo de jogar que foi copiado e reproduzido até os anos 1990 quando enveredamos pelo caminho inverso, copiar o modelo disciplinado e mecânico dos europeus. Creio também que são momentos distintos e o futebol, como a sociedade, mudou. Faltam espaços públicos, campos de várzea, interesse na formação de indivíduos capacitados para jogar futebol, mas também para integrar a sociedade com participação, autonomia e visão crítica. Os pobres e excluídos, especialmente nas periferias das grandes cidades, tinham no esporte, como o futebol, voleibol, basquete, tênis e natação, maneiras de ascender socialmente e sair de sua condição difícil. Com a “glamourização” do futebol, são outros os jovens que procuram ocupar esses lugares, nas escolinhas especializadas, com seus pais gritando no alambrado a melhor solução para cada lance, conseguem dedicar energia e recursos para viabilizar um investimento de longo prazo como outro qualquer. Não posso deixar de recomendar (ou sugerir) visitas à biblioteca, por exemplo, Garrincha, de Ruy Castro ou a recente série de filmes do cineasta paulistano Ugo Giorgetti com “Boleiros’. São obras sociológicas, prescindem do gostar ou não do futebol, ele aparece como pano de fundo em uma minuciosa desconstrução do “orgulho de ser brasileiro”.

Secom: Antigamente, havia mais dificuldades de transportes, de comunicação e os jogadores não ganhavam tanto dinheiro. Por que agora, nos dias atuais, a Seleção Brasileira não impõe tanto respeito aos adversários como há décadas?

Ubiratan: Primeiro, eu discordo. A seleção brasileira irá sempre impor respeito aos adversários porque construiu isso com sua trajetória pelos campos mundiais. Ocorre que jogar contra o Brasil, Itália, Alemanha, Argentina, para ficar em alguns dos gigantes do futebol mundial, é encarado como o jogo da vida. Vencer uma equipe como essas é o mesmo que “Davi  vencer Golias”. Então, a disposição de jogar é outra porque a repercussão é mundial. Em um nível comparativo é o que os grandes jogadores dizem de jogar um clássico. A rivalidade e a importância de se vencer outros grandes exigem outra atitude. Por outro lado, a questão da parte física nivelou por baixo a maioria dos times, mesmo assim, os jogadores diferentes tecnicamente são os mais procurados e bem pagos do mundo. O Brasil permanece como um exportador de “pés-de-obra” para diferentes partes do mundo, o que talvez possa demonstrar a capacidade de encantamento dos esportistas brasileiros. Por fim, eu ainda gostaria de destacar que os astros do futebol atual são verdadeiros garotos-propaganda de tudo que seja consumível. São, muitas vezes, atropelados por agendas que nada tem a ver com sua prática esportiva e, além disso, há as seduções que o dinheiro atraem: festas, bebidas, mulheres, entre outros atrativos. Quanto tempo sobra para pensar em jogar futebol? Cada vez mais, a carreira de atleta de alto nível é mais curta. E é preciso pensar no depois. Creio que o Sócrates disse certa vez que o jogador de futebol é um dos poucos profissionais do mundo que morrem duas vezes. A primeira é quando eles têm de abandonar a carreira de jogador. Falta preparo, se é que seja possível preparar alguém para deixar o centro das atenções e voltar ao anônimato.

Secom: O que você espera desta Copa do Mundo?

Ubiratan: Eu esperava que as coisas fossem acontecer de maneira diferente. É indiscutível que um megaevento deste porte movimentaria a economia, criando oportunidades de trabalho e estimulando as mais diferentes cadeias produtivas. Esperava que houvesse um planejamento estratégico capaz de fazer o necessário para a Copa e ir além nos aspectos de infraestrutura urbana e social. O foco da preocupação parece estar restrita aos estádios e ao que vai acontecer dentro deles. Eu não tenho dúvidas de que o espetáculo nos estádios será garantido durante os 30 dias de competição. A população aproveitará a superexposição midiática para reivindicar coisas básicas como melhorias no transporte público, na saúde, na educação ou na questão da segurança. Creio que teremos situações bastantes críticas, mas é uma oportunidade de exercitar o direito à livre expressão, à cidadania, ao contraditório. Poderá ser um aprendizado social, com riqueza de opiniões, visões divergentes, democracia. Contudo, há aqueles que vão usar de artifícios duvidosos para chamar atenção sobre si ou suas causas. Neste momento, é muito difícil imaginar o que pode surgir desses ingredientes, sem deixar de lado que no final do ano teremos eleições majoritárias no Brasil.
Eu também esperava, utilizo o verbo no passado porque deixei de acreditar nessa possibilidade, que a realização da Copa no Brasil pudesse trazer mais transparência para a gestão dos esportes em seus diferentes aspectos.

Secom: E da atual seleção brasileira?

Ubiratan: Dentro de campo, com o entusiasmo da torcida, pode-se até chegar ao título. Trata-se de um torneio curto, depende da condição em que os atletas vão chegar aqui, do tempo de entrosamento, das motivações de toda natureza, nestes casos, como ficou evidenciado na Copa das Confederações – o ensaio geral para Copa – da qual saímos campeões. Só que uma Copa é diferente e o empenho dos atletas também. É difícil afirmar que a seleção vá encantar o mundo. Afora Neymar, não tenho visto nenhum fator de desequilíbrio que possa mudar uma situação adversa, como ocorreu na última Copa na África do Sul, quando a falta de opções inesperadas travou o avanço da seleção. Eu confesso ser um romântico, ainda preferiria perder jogando um futebol que se aproximasse mais das características que fizeram do Brasil, um modelo inspirador para o futebol em outras partes do mundo.

Secom: Qual a sua Seleção Brasileira de Todos os Tempos?

Ubiratan: Acho que deixei escapar uma pista nas respostas anteriores, mas é segredo, né? Vamos aguardar a votação popular, tenho certeza que teremos surpresas e confirmações. agradeço a oportunidade e o interesse. Que possamos aproveitar e enxergar muito além das aparências. Já que o assunto é latente porque não procurar extrair dele aspectos mais profundas e provocativos.

Exposição Seleção Brasileira de Todos os Tempos no Mercado Municipal de São Paulo
Organização: Sesc Carmo
Local:piso térreo do Salão de Eventos do Mercado Municipal Paulistano na rua da Cantareira, 306 – Centro – São Paulo
Horários: Segunda a domingo, das 10h às 16h, até 28 de fevereiro de 2014
Telefone: (11) 3111-7000
Ingressos: Grátis.

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SECOM/CPP