Manter os filhos assistindo às aulas em casa ou mandá-los para a escola durante a pandemia? Para muitas famílias, nenhuma das opções é simples, e discussões e críticas em grupos de pais têm dificultado ainda mais a tomada de decisão. Laísa Bosi, 36, já foi alvo de críticas no grupo de pais da filha de cinco anos por motivos diferentes. Em janeiro, quando a escola retomou as aulas, ela decidiu que a menina iria para parte das aulas presenciais. Foi criticada.

No último dia 12, quando as escolas puderam reabrir após novo fechamento durante a fase emergencial em São Paulo, ela preferiu esperar pela diminuição das taxas de contágio do coronavírus antes de deixar a filha voltar a frequentar as aulas. Foi novamente criticada. Desde o início do ano, com a autorização para a volta das aulas presenciais em algumas regiões do país, cabe aos pais a decisão, já que a frequência à escola não é obrigatória.

“Primeiro, parte dos pais me disse que eu queria despachar minha filha, que eu não me importava com a saúde dos professores. Agora, que não me sinto segura em mandá-la para a escola, dizem que eu não me preocupo com o aprendizado e a socialização”, diz Laísa. Ela explica que nenhuma das decisões foi fácil, já que está ciente dos riscos de qualquer uma delas. “Pensei em sair dos grupos de pais para não ter que lidar com esse tipo de constrangimento, mas eles têm sido importantes para saber como as outras famílias estão se protegendo e avaliar o risco que minha filha corre ao ir à escola.”

As conversas das famílias em grupos de WhatsApp e os convites para festas e encontros foram um dos motivos pelos quais a empresária Sheila Hojda, 46, também decidiu não deixar a filha voltar à escola. “Nos grupos, as mães estão marcando festinhas, encontro entre as crianças. Depois defendem que o protocolo da escola é seguro. Não sinto essa segurança”, diz Hojda, que tem uma filha de dez anos em escola da zona oeste da capital. Desde março de 2020, a menina não participa presencialmente de nenhuma atividade. Ela diz que se sente constrangida por outros pais que questionam por que a filha ainda não voltou às aulas presenciais nem participa dos encontros. “Eu quero que ela volte a conviver com crianças da mesma idade, que veja os amigos, mas só me sentiria segura se soubesse que os outros estão tomando cuidado.”

No começo do ano letivo, a advogada Aline Santiago, 39, foi a única mãe da sala da filha, de nove anos, a decidir que ela continuaria com aulas remotas ao ver o aumento das taxas de contágio na região onde mora, em Igrejinha, no RS. “Os pais questionavam quem tinha tomado decisão diferente da deles, me mandavam mensagens com estudos ou vídeos de pediatras defendendo ser seguro, diziam que eu deveria pensar no que é melhor para a minha filha. Eu não vou colocar nossa família em risco”, disse.

Outra mãe disse ter se sentido pressionada até pela escola particular em que a filha de dez anos estuda. O colégio, na zona oeste de São Paulo, não transmitiu as aulas presenciais para quem optasse por continuar só com as remotas. A menina e outras duas crianças perdiam as aulas presenciais que ocorriam durante duas vezes por semana. A mãe, que pediu para não ser identificada, contou que os outros pais diziam que a decisão da escola era correta, pois todos tinham condição de frequentar presencialmente.

Para Angela Soligo, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, os pais estão legalmente amparados para tomar qualquer uma das decisões e as escolas precisam estar preparadas para acolher as opções das famílias. Ela defende que é papel dos colégios promover o diálogo para evitar esse tipo de constrangimento entre os pais. “A escola precisa ser a mediadora, orientar, instruir para evitar que as famílias se sintam acuadas, porque esse tipo de situação gera conflitos e confusões entre as crianças.”

O CNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou ainda no ano passado que os pais podem escolher sobre o retorno presencial dos filhos às escolas durante a pandemia.

Fonte: Folha de São Paulo