A perspectiva assumida em muitos projetos educacionais é que a escola tem um papel específico na sociedade e que suas fronteiras são claras e, praticamente, intransponíveis. Há, infelizmente, a ideia de um espaço-tempo estéril e praticamente estável. Imagino que pensar e operar a educação desse jeito determinará uma escola provavelmente descomprometida da vida.
 
Numa outra opção, conscientes das inter-relações que existem entre educação-escola-sociedade, mesmo considerando contextos desafiadores, é fundamental conversarmos e atuarmos na seara da educação sobre e para os Direitos Humanos.

É o que temos buscado, é o cenário que estamos construindo com a ajuda de muitos. Retomamos essa questão pela necessidade de a escola abordar sistematicamente o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), código elogiado no mundo todo, mas às vezes desconhecido e criticado por alguns brasileiros. Queríamos superar preconceitos, conhecer melhor, buscar especialistas que pudessem ajudar a comunidade educativa em um estudo mais profundo.

Nosso Grupo Marista tem atuações em vários campos na cidade de São Paulo. Nosso Colégio, fundado em 1858, em sua sede atual projetada e construída nas décadas de 1920-1930, na Vila Mariana, agora se encontra em um dos principais entroncamentos culturais e educacionais da cidade. Temos o nosso Colégio irmão, o Marista Glória, desde 1902 fazendo Educação Marista na região do Cambuci-Aclimação. E, há mais de 20 anos, temos atuação educativa-social na Zona Leste: Vila Progresso, Itaquera, Jardim Robru e União de Vila Nova.

De fato, precisávamos aproveitar a qualificação dos educadores das unidades da Rede Marista de Solidariedade, na Zona Leste, e discutir o ECA. Montamos, então, um grupo de estudos e as trocas foram se multiplicando. O estudo e a partilha geraram um sentimento coletivo: não é possível represar esse conhecimento sobre o Estatuto e as questões relacionadas aos direitos humanos apenas neste pequeno grupo.

Pensamos: por que não organizarmos um grande encontro sobre Direitos Humanos e Educação? As parcerias foram construídas e o resultado foi o I Seminário Marista – Direitos Humanos e Educação em setembro de 2014. A Rede Marista de Solidariedade, o Colégio Marista Arquidiocesano e a editora FTD promoveram um evento que teve a presença de 500 educadores de São Paulo e de outras cidades do Brasil.

Das reflexões acadêmicas às trocas de experiências, dos relatos pedagógicos às partilhas de engajamento e transformação em situações de altíssima vulnerabilidade, tudo contribuiu para vincular-nos com a aprendizagem e construção dos Direitos Humanos na educação, tanto aquela que acontece formalmente nas escolas quanto nos processos não formais.

É isto: nossa humanidade é o grande palco dos direitos. Que continuemos a fazer na educação eco desta busca sempre exigente.

Ascânio João Sedrez é pedagogo, filósofo e diretor do Colégio Marista Arquidiocesano, da Rede de Colégios do Grupo Mari

Secom/CPP