Volta às aulas abre discussão sobre cuidados com estudantes que têm epilepsia
Das 65 milhões de pessoas em todo o mundo com a doença, cerca de 10,5 milhões são crianças; ABE destaca necessidade de atenção e preparo de pais e educadores.
As aulas presenciais já retornaram na maioria das escolas brasileiras, mas além dos cuidados contra a Covid-19, as crianças e adolescentes que têm epilepsia precisam de uma atenção a mais.
De acordo com o Charity ‘Young Epilepsy’, no Reino Unido, uma em cinco pessoas com a doença tem dificuldades intelectuais ou de aprendizagem. Por isso, a ABE chama a atenção para a necessidade do preparo de pais e mestres, seja para uma colaboração efetiva com o processo de aprendizagem, seja para a identificação e primeiros socorros em casos de crise.
A associação consultou a pediatra e neurologista infantil Dra. Daniela Fontes Bezerra para um detalhamento sobre o assunto e a especialista indicou, logo de partida, que das cerca de 65 milhões de pessoas no mundo com epilepsia, aproximadamente 10,5 milhões são crianças, o que dá a dimensão deste universo e da importância de debates sobre a fase escolar.
“Por definição atual, a Epilepsia deixa de ser uma desordem para ser considerada uma doença do cérebro, ela pode interferir no desenvolvimento neuropsicomotor da criança e do adolescente, afetando a aquisição de habilidades escolares e trazendo prejuízos para alguns aspectos cognitivos de acordo com sua etiologia (causas), classificação, síndrome epiléptica e tratamento medicamentoso”, explica a médica.
Outro ponto que os pesquisadores do Reino Unido também constataram é que as crianças com epilepsia apresentavam uma pior memória em comparação com as crianças saudáveis. “Aproximadamente 70% dessas pessoas possuem ótima resposta a medicamentos ou a fármacos anticrise, mas em torno de 30% são considerados tendo Epilepsia de difícil controle ou farmacorresistente. Por isso, prestar atenção e manter os devidos cuidados, é extremamente importante”, conta Daniela.
Como detectar uma crise
Quando falamos sobre crises, talvez a primeira imagem para os que não têm muito conhecimento sobre o assunto é a de alguém salivando excessivamente, tremendo de forma descontrolada e caído no chão. Porém, alguns comportamentos que também podem sinalizar crise não são assim tão característicos, o que deve ser observado com maior cuidado no ambiente escolar.
Alguns destes comportamentos são: pessoa puxando as roupas, parecendo embriagada, vagando sem rumo, com o olhar perdido, confusa ou, em caso de queda, corpo enrijecido. Outros exemplos não tão evidentes podem se manifestar em sensações, como medo ou riso sem motivo, cheiros, déjà vu ou jamais vu.
“Durante o processo da crise, saber o que fazer, mesmo que você ache que nunca vai estar diante de uma situação como essa, é muito importante para se prestar um atendimento de qualidade e, assim, evitar consequências sérias para quem tem a crise, bem como garantir a calma e a adoção dos procedimentos corretos por parte de quem a presencia”, alerta a neuropediatra.
A ABE sabe que o assunto ainda tem muito para avançar nas escolas, mas lembra de um sistema de letras que facilita o entendimento de como agir. Confira:
C- Coloque a pessoa de lado e com a cabeça elevada para que não sufoque com a saliva;
A- Apoie a cabeça sobre algo macio para protegê-la;
L- Localize objetos que possam machucar a pessoa e afaste-os;
M- Monitore o tempo e se passar de 5 minutos ou se repetir, ligue para o SAMU (192);
A- Acompanhe a pessoa até que ela acorde.
Quem vê cara, não vê epilepsia
A ABE destaca, ainda, que qualquer pessoa pode ter epilepsia. Não é uma doença que atinge determinada classe, religião, padrão físico, biológico ou estético e que a maioria das pessoas que têm podem levar uma vida normal com acompanhamento regular e uso de medicação.
“O tratamento adequado não só controla as crises como ajuda a melhorar a qualidade de vida, preservando o potencial cognitivo da criança e evitando repercussões na fase adulta”, conclui Daniela.
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