Foto: Leila Ofélia

Associado ao CPP fala da importância da escola na formação das futuras gerações de leitores

A literatura está incorporada à vida do professor João Gomes de Sá, 68 anos, alagoano de Água Branca. Ele foi aluno da Ufal, do curso de Letras, mas mora em São Paulo há 35 anos. Também é formado em Pedagogia pela Unifac, de Botucatu-SP. 

“Partindo do pressuposto de que nem todo artista é professor, mas todo professor é artista, faço a fusão entre as artes de ser educador, escritor e poeta cordelista. É a partir dessa versatilidade que desenvolvo vários trabalhos nas escolas públicas, particulares, faculdades, universidades e centro de cultura. Ministro palestras e oficinas, participo de seminários, encontros e feiras sobre manifestações culturais espontâneas, principalmente o Cordel Brasileiro”, contou em entrevista exclusiva ao Portal CPP.

Associado do CPP desde 2001, e apaixonado por Cordel e Repente, é otimista e acredita que seu hábito ainda será compartilhado por todos, um dia. “Ler e escrever é muito gostoso; é natural que as pessoas gostem”, declarou na Bienal, enquanto gravava vídeo para o Instagram da entidade. “Só falta alguém que desperte esse interesse.”

Nesta entrevista, marcada por risos, numa parada para elaborar um repente de improviso, o professor e escritor falou das dificuldades de escrever no período da pandemia e sobre como o educador pode assumir esse papel, servindo de exemplo para que as futuras gerações passem a andar com livros a tiracolo. Ele lançou no evento o livro “A Coruja e o Poeta”.

Portal CPP: Depois de passarmos pela pandemia de Covid-19, como é voltar à Bienal do Livro presencial e com a oportunidade de lançar um livro?

João Gomes de Sá: Nesse período de isolamento social adentrei o universo da pesquisa, do estudo e realizei inúmeras atividades remotamente. E nesse período escrevi, editei e publiquei “A Coruja e o Poeta”, lançado agora na 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, e “A lenda da Criação das Palavras”, para estimular meu neto Gustavo e minha neta Maria à escola e, sobretudo, às letras. Também publiquei “Pé quebrado Agoniado”, fruto de uma pesquisa. Modalidade literária em verso rimado e metrificado. Olhe, a pandemia ainda não foi totalmente erradicada. Continuemos com todos os cuidados.

Diante do avanço da tecnologia e das redes sociais, como estimular as crianças e jovens à leitura de livros nos dias de hoje?

Vivemos o mundo cibernético, o mundo das mídias, tecnologias e, sobretudo, vivemos o mundo imagético. A escola está inserida nesse contexto. Ninguém pode ignorar. Agora, é de fundamental importância políticas públicas de formação, as quais possam capacitar, habilitar, consequentemente criar condições favoráveis para formação de novos leitores. Mas vale salientar que essa formação de novos leitores passa também pela família, pelo exemplo. Educai as crianças e não será necessário punir os homens.

Como professor de literatura em escola pública, como vê a defasagem de alunos em leitura e escrita? Muitos têm dificuldade para compreender um texto simples ou diferenciar uma notícia de uma opinião. Como melhorar esse cenário?

Toda essa defasagem de leitura, de escrita e de tantas outras, repito, é ausência de políticas públicas, não é discurso não. Chega de ‘culpabilizar’ a escola por tantos descaminhos. Se não tratar a educação como prioridade, como direito constitucional, natural e com equidade, será sempre profunda essa lacuna com relação ao hábito de leitura e produção de texto. Se não assegurar condições favoráveis para os professores, professoras no seu dia a dia, será sempre amiúde o preenchimento dessa lacuna. Um país é feito com homens e livros. Já temos os livros. O docente faz o que é possível. Também pudera. Jornada de trabalho, salário, ausência de equipamentos, sala lotadas, formação, recursos humanos e outras coisas são algumas barreiras, obstáculos que criam dificuldades para encurtar essa distância. No entanto, podemos registrar experiências exitosas de professores e professoras. Salas de leitura, dia da leitura, clubes de leitura, discentes leitores, concursos de poesia e muito mais.

No que se inspirou para escrever os livros? Fale sobre o processo de elaboração das obras.

O processo de construção do livro brotou nesse isolamento social. Um dia estava folheando algumas narrativas de minha autoria, romances de cordel, e estranhei. Eu escrevi isso? Nossa. Eu disse isso mesmo? E a partir desse questionamento entendi que personagens também têm o direito de opinar. E assim nasceu “A Coruja e o Poeta”. Um diálogo entre criador e a criatura. Outros livros, a “Provocação”, nasce em diversos cenários. Sala de aula, trem, metrô, em casa, em conversas com amigos, viagens, manifestações da categoria e outras.

Como foi o período mais crítico da pandemia para o desenvolvimento do seu trabalho?

O período mais desagradável, desconfortante, doído, triste e lamentável foi aquela mensagem nas redes sociais anunciando a despedida de queridos amigos. Dói. E como dói. Não era uma gripezinha não. O mundo morria. Viva o SUS.

Que mensagem pode deixar aos seus colegas professores, principalmente para os que têm interesse de escrever?

Ler, contar histórias para os discentes, montar peças de teatro, escrever e observar na sala quem gosta de escrever, de desenhar, de cantar e outras manifestações artísticas. Esse é um bom começo para incentivar e adentrar o universo das manifestações literárias.

Que lições tira de sua experiência como professor de literatura?

Que nenhuma transformação acontece na sociedade sem antes passar pelas artes, literatura e educação. Encerro meu comentário sem perder a esperança. E digo com segurança. Com muita Convicção: o futuro do país, da nossa gente infeliz, passa pela educação!

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