Com quase 9 milhões de inscritos em 2014, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que se realiza em todo o país, consolidou-se como a principal porta de acesso à universidade federais brasileiras.

 

Foi um caminho tortuoso. Com o súbito gigantismo adquirido após a reformulação de 2009, que tornou o exame um substituto para a miríade de vestibulares dessas instituições, sobreviveram problemas logísticos e de segurança – como o vazamento dos testes – que arranharam a credibilidade da prova.

 

Não surpreende, assim, que seus organizadores tenham buscado aprimorar tais aspectos.

 

Nesse esforço, porém, o debate pedagógico, sobre o conteúdo do exame, acabou relegado ao segundo plano, como declarou ao jornal Folha de S.Paulo Reynaldo Fernandes, que, de 2005 a 2009, presidiu o Instituto nacional de Studos e Pesquisas (Inep), responsável pelo Enem.

 

No plano da política pública, a prova funcionaria como ferramenta de avaliação de um currículo nacional do ensino médio. Como tal currículo inexiste, todavia, deu-se uma inversão de papéis. O exame ocupou esse vácuo, transformando-se, na prática, em um guia usado pelas escolas para selecionar o que será ensinado aos alunos.

 

Apenas essa desvirtuação já seria ruim, mas a situação é pior. O Enem se tornou referência para a sala de aula sem que o governo levasse a sério uma pergunta simples: o conteúdo que exige é o mais adequado para o jovem brasileiro?

 

Outro debate pedagógico importante remete aos motivos que levam alguém a fazer a prova. Hoje o Enem tem dupla função: selecionar alunos para universidades e conferir certificação do ensino médio a quem o tenha abandonado e deseja obter o diploma. Neste ano, quase 1 milhão de pessoas farão o exame com esse segundo objetivo.

Reportagem publicada na sexta-feira (7) no jornal ‘O Estado de São Paulo’ mostra que estudo do Inep não só questiona a utilização da prova para a certificação como também critica que se destine a duas finalidades tão díspares.

 

Mas essa questão, assim como a relação entre o Enem e o ensino médio, só será aprimorada com um debate de qualidade, à altura de exame tão fundamental quanto esse. O governo, porém, parece apenas preocupado em torná-lo o mais abrangente possível, como se os problemas da educação se limitassem a aspectos quantitativos.

Editorial Folha de São Paulo , publicação (9/11).

Secom/CPP