Quando se fala em problemas na educação básica no Brasil, a primeira associação que se faz é em relação à má qualidade do ensino, que segue formando jovens despreparados para a vida adulta, longe do padrão de excelência exigido pelo mercado de trabalho. Mas, a despeito da falta de professores, equipamentos deteriorados, métodos de ensino ultrapassados e políticas equivocadas, que levam à aprovação contínua de estudantes que mal sabem ler e escrever, o maior problema do ensino público não está diretamente ligado ao universo pedagógico e sim à falta de segurança no ambiente escolar. o que, convenhamos, é uma barbaridade, difícil de aceitar.

 

Em São Paulo, essa sensação de medo e insegurança foi recentemente confirmada por uma pesquisa de um sindicato dos professores do Estado. De acordo com o levantamento, que entrevistou 2,1 mil pessoas, a segurança foi apontada como o problema que mais aflige a comunidade escolar por 37% dos pais, 32% dos professores e 25% dos alunos. Chega a chorar a constatação de que 57% dos professores e 70% dos alunos entrevistados consideram violenta a escola que frequentam. O dado mais alarmante informa que 44% dos professores e 28% dos alunos já sofreram algum tipo de violência dentro dos colégios estaduais.

 

O que pode esperar na formação dos nossos jovens num ambiente contaminado dessa maneira? Como um pai pode ficar tranquilo no trabalho ou em casa sabendo que seu filho corre o risco de ser vítima desta escalada de violência dentro da escola? Ainda que o governo tente relativizar os dados e desqualificar a pesquisa por conta da amostragem do universo pesquisado, não dá para admitir que o estado mais rico da federação apresente estatísticas tão perturbadoras. Se há, de fato, uma supervalorização dos números pelo sindicato dos professores, alguns poucos relatos publicados pelo jornal Diário de S. Paulo em reportagem desta semana  bastam, e são suficientemente emblemáticos, para legitimar o problema. Há histórias de furtos, roubos, agressões físicas, consumo e tráfico de drogas contadas com tanta naturalidade que chegam a assustar. Tanto que uma escola de Itaquera, na Zona leste da Capital, viu-se obrigada ao cúmulo de ter que colocar grades de proteção em algumas salas, transformando o aspecto do lugar numa cadeia.

 

Mesmo que esse seja um caso pontual, o certo é que já passou da hora de o Estado implantar uma política pública que possa mudar esse cenário. Nesse sentido, louve-se a iniciativa da Secretaria Estadual da Educação, que firmou uma parceria com a Polícia Militar que permitirá um reforço da segurança na porta das escolas, com a presença de 1.550 policiais militares em 775 unidades da Grande São Paulo, Campinas e Baixada Santista. O principal objetivo é minimizar os conflitos na porta e no entorno das escolas.

Editorial Jornal Diário de São Paulo, publicado no domingo (20/7).

Secom/CPP