MEC apresentou rascunho sem conteúdo de História; educadores pedem clareza
O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta quarta-feira (16) a proposta de currículo único nacional, mas o documento ainda está incompleto. O trecho sobre conteúdos de História, sob revisão, será entregue apenas na semana que vem, informou a pasta. Especialistas dizem que a base curricular apresentada é um avanço, mas cobram mais clareza no texto e ousadia nas metas de aprendizagem.
O currículo mostra que o aluno deve aprender em cada disciplina e etapa. O jornal O Estado de São Paulo apurou no capítulo sobre História – única parte que falta nesse rascunho do documento – tinha problemas conceituais e de texto. Hilda Micarello, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenadora dos especialistas, que redigiram o currículo, atribui o atraso a questões de formato.
“Pela exiguidade do tempo, não conseguimos fazer a revisão de língua portuguesa desse documento (de História)”, disse Hilda. “Ele também se apresentou em formato diferente, que não se adequava à estrutura do portal (onde o MEC publicou o currículo).” As comissões de reclamação foram formadas no primeiro semestre, mas a escrita do documento começou em junho.
A ideia agora é que o documento receba críticas e sugestões de especialistas e da sociedade para que uma proposta final seja apresentada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) ainda nos primeiros meses de 2016. O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê que esse trabalho seja concluído em junho de 2016, mas o MEC quer terminar o documento até março.
“Pela primeira vez, a sociedade brasileira vai definir, em um esforço com Estado, União e município, como deve ser o aprendizado em cada ano do ensino fundamental e médio”, afirmou nesta quarta-feira (16) o ministro Renato Janine Ribeiro. O documento também define o que deve ser ensinado na educação infantil.
A proposta curricular determina que 60% da grade seja comum a todo o País e os outros 40%, definidos por Estados e municípios. Segundo Janine Ribeiro, o currículo único também terá o papel de facilitar a formação de professores.
De acordo com o secretário de Educação Básica do MEC, Manuel Palácios, também interessa ao ministério discutir a possibilidade de adotar um currículo flexível, em que os alunos possam escolher quais disciplinas cursar durante o ensino médio. Uma experiência nesse sentido deve começar a funcionar na rede estadual paulista.
Ajustes. Para Paula Louzano, doutora em Educação pela Universidade de Harvard, faltou homogeneidade de formato no documento – as subdivisões variam muito de acordo com a disciplina. O formato ainda dificulta, segundo ela, a leitura de como o aluno deve progredir ano a ano. “E na área de escrita, por exemplo, as expectativas são baixas e comparadas a países desenvolvidos que fizeram o currículo recentemente”, critica. “Nessa área, o grau de detalhamento de habilidades também não é tão claro quanto em currículos internacionais.”
Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária (Cenpec), elogiou o documento. “Facilita o entendimento e articulação entre diferentes disciplinas, pelo menos dentro de uma mesma área.” A pedagoga destaca a qualidade na definição de parâmetros para a educação infantil. “Houve preocupação com o direito de a criança brincar e cuidado em incluir.”
Secom/CPP – informações são do jornal O Estado de São Paulo