O crítico e cineasta Olivio Tavares de Araújo analisou as suas relações com a arte gráfica do expressionismo alemão. Mario Pedrosa, por sua vez, destacou a sua importância na modernidade emancipatória política do século XX. Aracy Amaral relembra a origem política do artista: trotskista e marginalizado pelo Partido Comunista, que defendia Portinari e Di Cavalcanti. Seja no contexto sociopolítico ou na inserção nas vanguardas modernas, a obra do gravador, ilustrador e desenhista paulista Livio Abramo (1903-1992) destaca-se pelo rigor formal, tendo a gravura como a sua autêntica linguagem de expressão.
Passados quase 25 anos da morte do artista, o Instituto Livio Abramo (ILA) apresentou ao público um rico acervo – grande parte pertencente à família – com cerca de 120 obras. Aberta em 7 de dezembro, a mostra Livio Abramo: Insurgência e Lirismo será reaberta em 5 de janeiro, prosseguindo em cartaz até 12 de março de 2017, na Biblioteca Mário de Andrade (BMA), em São Paulo. A exposição reúne linoleogravuras, xilogravuras, litogravuras, aquarelas, grafites e nanquins, além de matrizes em madeira, matrizes em linóleo, clichês de metal, croquis, estudos e provas do artista, reunindo uma produção de quase 70 anos de trabalho. O panorama com curadoria assinada por Paulo Herkenhoff destaca os territórios estéticos e conceituais do artista, sobretudo, assinalando a sua importância como gravurista.
A exposição assinala o início das atividades do Instituto Livio Abramo (ILA) com a organização e a digitalização do acervo da família pelo Programa Rumos do Itaú Cultural e propicia uma releitura de todo o conjunto da obra do artista, após uma década da última individual de Livio Abramo, realizada no Instituto Tomie Ohtake. “O projeto Rumos Itaú Cultural foi essencial neste processo, uma vez que deu suporte para a escolha das obras a partir do inventário e classificação realizado na primeira fase do projeto de preservação e divulgação do acervo, permitindo que a demanda pelo conhecimento do acervo do Instituto fosse amplamente atendida”, afirma Pedro Abramo, presidente do Instituto Livio Abramo. Agora, pelo olhar curatorial de Paulo Herkenhoff, essa nova exposição objetiva rever a obra, valorizando Livio Abramo não apenas como pioneiro da xilogravura no Brasil, mas como um artista vigoroso, que dialoga com os movimentos sociais e artísticos do século XX, criando soluções formais inovadoras para responder às angústias de um homem e artista dentro do contexto histórico e social em que ele viveu.
Nesse sentido, Paulo Herkenhoff, que teve contato com Livio Abramo em Assunção (Paraguai), em pleno ano de 1968, e que depois selecionaria obras do artista para diversas exposições, realiza uma curadoria dinâmica e ousada. As escolhas de Herkenhoff permitem uma interpretação original, a partir de um diálogo com artistas do período, do contexto sociopolítico e das lutas dos movimentos sociais da época, sem perder de vista a capacidade transcendente da produção artística de Abramo, que desvela questões ainda contemporâneas.
Além de obras físicas, a mostra conta, ainda, com um programa educativo, composto de mesas de debates, de palestras, de cursos de formação e da exibição de documentário inédito, que mostra o processo de trabalho do xilogravurista Rubem Grilo, que usou matrizes de oito obras de Abramo para reimpressões, que farão parte da exposição. Ao lado de Grilo, um dos principais nomes da xilogravura na atualidade, e do curador Paulo Herkenhoff, o documentário intitulado “Livio Abramo: o Profundo Mistério dos Horizontes Inacabados” (11 minutos), produzido pelo Instituto Livio Abramo, inclui depoimentos de Frederico de Morais e Ferreira Gullar.
SERVIÇO
Livio Abramo: Insurgência e Lirismo
Período: de 5 de janeiro a 12 de março de 2017
Local: Biblioteca Mário de Andrade (BMA)
Endereço: Rua da Consolação, 94, Centro, São Paulo – SP
Telefone: (11) 3775-0002
Horário de visitação: 24 horas
Mais informações: www.bma.sp.gov.br