Pode até ter virado um repisado clichê, mas não custa repetir: o nosso maior desafio como nação é melhorar a qualidade da educação básica. Apesar dos avanços das últimas décadas, ainda estamos longe de vencer essa guerra.
Mais de 25% das crianças cursando o 4.º ano não sabem ler e escrever de forma adequada à sua série. Ainda temos Estados com cerca de 80% de alunos que não conseguem sequer produzir um pequeno parágrafo! (Prova ABC – 2013)
Mais de 50% dos jovens de 14 a 18 anos estão fora do ensino médio. A evasão está aumentando e apenas 10% dos que se formam no ensino médio dominam o conteúdo esperado para as suas séries
E a estatística recente que mais me chocou: cerca de 25% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos não completaram o ensino médio, não estudam e não trabalham (estudo da Fundação Seade, agosto 2013). Ou seja, estamos jogando pelo ralo o tal bônus demográfico brasileiro, um verdadeiro absurdo!
Com uma realidade dessas, como estranhar os fracos índices de produtividade do trabalhador brasileiro? Como reclamar e olhar com ares de surpresa para a existência do chamado apagão de mão de obra? Como não perceber aí a causa fundamental dos altíssimos índices de criminalidade (mais de 5 mil homicídios por ano, seis a cada hora!) e da enorme e devastadora desigualdade de renda presente em nosso país?
Particularmente, entendo que o desafio da melhoria da nossa educação pública não deve ser apenas delegado aos governos. Por sua relevância, é algo que requer o envolvimento de toda a sociedade civil.
Talvez o leitor que me acompanha até aqui pergunte: o que eu, empresário, executivo ou profissional liberal e leitor desse jornal, posso fazer? Arrisco a sugerir um caminho.
Primeiro, passe a acompanhar mais de perto e a se familiarizar com o assunto por meio de sites como o do Movimento Todos pela Educação e outras fontes sérias. Na sequência, profissionais como você, com vocação, preparo e experiência em execução e gestão de projetos e empresas, podem se envolver diretamente. De preferência procurando apoiar programas já existentes e testados.
Há cerca de dez anos cofundei a Parceiros da Educação, uma organização que promove parcerias entre empresas, empresários ou executivos e as escolas públicas do Estado de São Paulo (hoje também estamos no Rio de Janeiro). Já são mais de 60 escolas no programa, impactando a vida de dezenas de milhares de crianças. Nosso objetivo se subdivide em dois. O primeiro é elevar o aproveitamento dos alunos das nossas escolas. O segundo, em função da nossa experiência de uma década, impactar e influenciar positivamente as políticas públicas dos Estados e municípios em que atuamos.
Como resultado dessa inserção na política pública, apoiamos, com outras 15 das mais representativas organizações ligadas à educação, um programa bastante ambicioso da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo que tem um objetivo tão claro quanto inspirador: transformar significativamente o nosso sistema de ensino estadual, colocando-o entre os 25 melhores do mundo em 20 anos, além de transformar a carreira do professor numa das dez mais desejadas e respeitadas do Estado (Educação – Compromisso de São Paulo, http://www.educacao.sp.gov.br/portal/projetos/compromisso-sp).
Um dos pilares transformacionais desse programa consiste na ampla difusão das escolas de período integral. Nesse modelo os alunos entram às 7 horas da manhã e saem às 4 da tarde. Os professores, selecionados na rede pública, têm dedicação exclusiva a apenas uma escola e para tanto recebem um aumento salarial de 75%. No ensino médio há disciplinas eletivas propostas por professores e alunos, clubes juvenis, e cada aluno desenvolve o seu Projeto de Vida, em que o jovem escreve seu sonho e traça um plano de como concretizá-lo. Todas as escolas contam com estruturas bem mais completas e adequadas, com laboratórios de ciências e salas de informática.
Hoje são 70 unidades nesse modelo. Em 2014 teremos 182 escolas em regime integral em todo o Estado. O plano é que até 2018 tenhamos mil – 25% da rede – dentro do novo padrão. Trata-se de uma iniciativa revolucionária, que efetivamente nos pode levar a alcançar a ambiciosa meta que o Estado se propôs a perseguir.
Iniciei uma parceria com uma escola em tempo integral da zona oeste de São Paulo, a Alexandre Von Humboldt, em janeiro de 2012. Já no primeiro ano de parceria conseguimos aumentar o índice de aproveitamento da escola (Idesp) em 76% – ante 7% da média da rede e 34% das demais escolas do programa de ensino integral. Um salto fantástico em apenas um ano, resultado de uma articulação entre o Estado, a escola e a parceria com a sociedade civil!
Vale ressaltar que a base era baixa. Não obstante, este ano esperamos um novo salto, ainda que não tão grande como o do primeiro ano, mas ainda bastante expressivo.
Por fim, e talvez mais importante do que todas essas estatísticas, compartilho com os leitores o fato de que a sensação de satisfação ao ver o desenvolvimento da escola e o impacto nos alunos e nos professores é algo maior e muito especial, que proporciona um sentimento de realização indescritivelmente gratificante.
Pois bem, queremos expandir a Parceiros da Educação para apoiar o projeto de crescimento das novas escolas de período integral, participando ativamente da construção de algo verdadeiramente transformador. Temos mais de 170 unidades à procura de parceiros em dezenas de municípios do nosso Estado. Junte-se ao nosso grupo! Garanto que será das coisas mais gratificantes que você fará na sua vida. Um processo tão incrível que começa por reeducar a nós mesmos.
Por Jair Ribeiro, EMPRESÁRIO, É MEMBRO DO CONSELHO ESTADUAL DA EDUCAÇÃO, publicação no jornal O Estado de S.Paulo
SECOM/CPP