Enquanto a reforma do Ensino Médio avança pelas redes estaduais de todo o País, a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) acaba de divulgar estudo inédito sobre o panorama da educação brasileira, mostrando que a desigualdade da aprendizagem entre estudantes ricos e pobres já começa a acontecer em etapas iniciais da alfabetização no País.
O novo sistema do ensino médio, que está em curso, prevê que o currículo será dividido entre conteúdo comum e assuntos específicos. Com isso, além das matérias tradicionais, o estudante poderá escolher disciplinas eletivas, que terão mais conexão com seus anseios para o ingresso no mercado de trabalho. “A mudança pode representar um salto incrível para a educação no Brasil e o ambiente de aprendizagem deverá ficar mais atraente para o aluno e em sintonia com sua vida prática”, avalia o doutor em educação Ismael Rocha, diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education).
Porém, o especialista faz um alerta: “Para funcionar, é preciso equipar com urgência as escolas públicas de todo o País, que padecem de apoio do Estado”, alerta Rocha. Ele ressalta que a reforma do ensino médio deve caminhar simultaneamente com o aparelhamento das escolas públicas, com laboratórios e toda a infraestrutura necessária para um ensino de qualidade. “Os alunos da rede pública têm o direito de receber as mesmas condições dos estudantes da rede privada e esse ponto é fundamental para a reforma do ensino médio ser efetiva”, ressalta o especialista em educação.
O levantamento divulgado pela OCDE aponta, ainda, que está entre os principais desafios hoje no Brasil melhorar os resultados de aprendizagem no ensino básico entre jovens e negros e combater as altas taxas de evasão escolar, com políticas públicas reforçadas no pós-pandemia. Conforme o diretor do Iteduc, a reforma do ensino médio pode ajudar a enfrentar ambos os problemas na medida em que amplia o ensino profissionalizante, que deixará de ser oferecido apenas pelas chamadas escolas especializadas, devendo chegar a toda a rede pública. Para isso, está previsto estímulo orçamentário do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), aprovado em dezembro passado.
O anseio das secretarias da educação dos Estados de todo o País é justamente que a modificação do currículo do ensino médio possa diminuir uma iminente explosão da evasão escolar, agravada pela crise do Covid-19.
BNCC NA PAUTA
Desde que a Base Nacional Comum Curricular foi aprovada, os colégios de todo o Brasil, em especial os particulares, têm promovido debates para definir o novo currículo a ser aplicado. O objetivo é transformar as competências e exigências do documento em projetos curriculares que façam sentido para a comunidade escolar – pais, alunos e professores – na construção do processo da educação.
“Além das disciplinas obrigatórias, como Matemática, Português, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ciências Sociais, nada impede que o colégio decida incluir mais disciplinas essenciais na grade”, indica Ismael Rocha.
O novo modelo pode representar uma guinada, segundo o especialista, para a tão almejada “aprendizagem significativa”, cuja formulação original foi apresentada pelo psicólogo da educação americano, David Ausubel (1918 a 2008). O conceito faz contraponto à aprendizagem mecânica e memorística, ancorando-se em conhecimentos e repertórios anteriores na história de cada estudante.
“Há uma oportunidade incrível para termos uma mudança de patamar no nosso nível educacional, sobretudo porque os alunos vão poder buscar cursos mais sintonizados com uma dinâmica de ensino contemporânea”, explica o diretor do Iteduc. “Ou seja, as escolas poderão entregar mais e diversificar as disciplinas, e isso tende a melhorar a educação básica brasileira como um todo.”