Saiu mais um ranking de colégios baseado no Enem. Não tenho nada contra a cultura da avaliação, muito pelo contrário. Acredito naquele mantra da física que diz que só conhecemos aquilo que podemos medir. Antes da introdução de exames como Enem, Enade, Saresp, Prova Brasil, Pisa, vivíamos numa espécie de caverna platônica, na qual, sem acesso a dados empíricos sobre a educação, tomávamos sombras por realidade.

 

Feita a defesa da avaliação, é preciso evitar o risco de fazer uma interpretação fundamentalista dos rankings. O mundo é melhor com eles, mas isso não significa que sejam perfeitos e não carreguem distorções. É preciso compreendê-las para não comprar gato por lebre.

 

Uma vantagem do Enem é que, por ser um exame que assegura vaga em universidade, é a prova em que os alunos mais se esforçam para ir bem. A desvantagem é que, por ser um teste não obrigatório, ele vem com vieses de seleção que o tornam pouco adequado para avaliar escolas.

 

Esse efeito pode ter prejudicado o desempenho de colégios de elite paulistas. Alunos tão bons que estejam confiantes de que conseguirão entrar em instituições que não usam o Enem em seu processo seletivo, como a USP e o ITA, não têm incentivo para fazer a prova, o que puxa para baixo a média de suas escolas.

 

Analogamente, dado que a disputa pelas posições mais altas é apertada – o 70º colocado tem nota apenas 10% menor que a do primeiro -, não é difícil para um colégio galgar alguns pontinhos manobrando para que só os melhores estudantes façam a prova. Valem truques como expulsar alunos repetentes ou oferecer prêmios para que aqueles que costumam gabaritar se inscrevam.

 

Eu costumo até brincar afirmando que, como é forte a correlação entre renda dos pais e desempenho escolar, o modo mais eficiente de uma escola melhorar sua posição no Enem é aumentar o valor da mensalidade.

Por Hélio Schwartsman – colunista da Folha de São Paulo

Secom/CPP