Os educadores mais renomados de todo o mundo há tempos reforçam a ideia de que a escola deve ir além de um mero projeto pedagógico se quiser formar cidadãos completos e prontos para enfrentar os desafios da vida ou do mercado de trabalho. Esse conceito, que é a base do êxito dos países onde a Educação é apontada como modelo de excelência, felizmente começa a se expandir também no Brasil – melhor ainda, não só na rede particular, mas também na pública.

 

Entender o aluno como cidadão começa a fazer diferença em diversas escolas nacionais. Em São Paulo, um projeto da Secretaria Estadual de Educação tem se revelado um importante instrumento a serviço dessa qualificação dos jovens, abrindo-lhes o horizonte. Trata-se do Concurso de Cientistas Mirins aplicado em escolas do Estado, evento que favorece o pensamento criativo e a internacionalização do conhecimento num ambiente até então tido como improvável, que é a escola pública.

 

O resultado da edição deste ano premiou com uma viagem para Nova York três alunos de uma escola de Jales, interior, classificados para participarem da Genius Olympiad, uma das principais feiras científicas internacionais voltada a estudantes do ensino médio. Para chegar ao resultado que lhes valeu o primeiro lugar na etapa brasileira, os estudantes foram movidos pela necessidade em encontrar uma solução para a falta de água na região metropolitana e pesquisaram meios de reutilizá-la. Fácil identificar aí a importância de ir além dos conhecimentos teóricos dos livros didáticos para se dedicar a um problema que afeta a todos. Além do projeto focado na crise hídrica que castiga a população paulista, o concurso estadual também distinguiu trabalhos inovadores sobre energia térmica, construções sustentáveis, saúde coletiva, acessibilidade e até alimentação saudável a partir de proteínas do gafanhoto.

 

Dada a diversidade dos temas, é mais do que legítimos elogiar o programa, que além de estimular o espírito científico, empreendedor e social dos alunos, auxilia as escolas participantes no desenvolvimento de ferramentas de aprendizagem que falam o mesmo idioma dos jovens. A busca por futuros cientistas dentro da rede do ensino médio é uma forma de mostrar que o ambiente escolar pode ser atrativo, interessante, desafiador, absolutamente distante do marasmo que, em muitos casos, tem contribuído para a evasão escolar estimulada pela falta de horizontes. A atividade extracurricular também tem o condão de comprovar a eficiência do conceito de escola em tempo integral, tão propagada na recente campanha eleitoral. Projetos pedagógicos amplos e amplificados, mais do que preencher a carga horária dos estudantes, fazem deles agentes da própria evolução e ajudam a entender porque alguns modelos educacionais dão mais certo do que outros.

 

Editorial do Diário de São Paulo, publicado em 14 de dezembro de 2014.

 

Secom/CPP