Escola sem Partido, homeschooling e retorno do ensino presencial com ênfase no ensino híbrido – se esses programas forem concretizados, mudarão a função da escola como conhecemos. Isso suscita questões, dentre elas:

– A opção dos governos nas diferentes esferas de poder por programas que favorecem o ensino fora da escola afetará a organização das redes de ensino e da própria escola?

– Como ficará a carreira dos profissionais da educação?

– Esses programas significam a opção por uma educação minimalista?

Paralelamente às propostas e implantação daqueles programas, temos outra questão merecedora da nossa atenção, a política de investimento na educação/escola pública. Vivenciamos um cenário de cortes orçamentários e vigência da Emenda Constitucional 95, de 2016, que congelou os gastos da União com despesas na educação e saúde por 20 anos. Nesse contexto, existe possibilidade de implantação de qualquer política educacional exitosa?

Escola Sem Partido. Ela propõe, em nível nacional, cercear a liberdade dos professores e professoras, em razão da “doutrinação ideológica” nas instituições de ensino. Por trás desse argumento está a ideia de impedir diferentes interpretações e compreensões do mundo que não sejam as dos seus defensores.

– Se implantada, ela representará um retrocesso no campo educacional, na medida em que limita o espaço escolar a um lugar de discursos hierárquicos e cristalizados?

– Podemos pensar que uma das consequências desse projeto será a delação do professor e professora por parte do estudante, cada vez que ele entenda que a abordagem não seja pertinente?

A atividade docente não se limita a um trabalho burocrático de transmissão de conteúdo a ser “absorvido” por estudantes. Ao contrário, professores e professoras desempenham uma atividade intelectual respaldada em princípios democráticos e na autonomia tanto docente, quanto discente.

Homeschooling. O termo inglês diz respeito à prática da educação domiciliar, ou seja, educação fora da escola. A defesa dessa modalidade de ensino minimiza, ou mesmo nega, a educação escolar como processo que acontece por meio de ações articuladas entre Estado, sociedade e família.

– Ao propor a educação em casa não estaríamos desconsiderando o fato de que todos e todas são responsáveis pela aprendizagem e pelo desenvolvimento dos estudantes?

– Não estaríamos negando às crianças, adolescentes e jovens as oportunidades de socialização, crescimento individual, convivência com diferentes grupos e, portanto, com a diversidade humana?

As famílias podem e devem participar do ensino de seus filhos e filhas, da construção do projeto político-pedagógico da escola e podem escolher o tipo de instituição que desejam: pública, comunitária, confessional ou privada.

O retorno do ensino presencial com ênfase no ensino híbrido – O ensino híbrido é uma abordagem pedagógica que une atividades presenciais e atividades realizadas por meio das tecnologias digitais de informação e comunicação. Esta abordagem estará cada vez mais valorizada. Mas, para implementá-la, é necessário muito investimento na infraestrutura.

A abordagem híbrida exige a articulação/reformulação de espaços, tempos e pedagogias aproveitando o que há de melhor em cada arranjo e entre todos em conjunto. Aqui voltamos ao início do texto: como garantir o ensino híbrido de boa qualidade face as políticas de contenção dos investimentos na educação?

Em setembro, o educador Paulo Freire completaria cem anos. Ao encerrar o texto, trazemos para a reflexão de todos e todas um dos seus postulados: educar é um ato político, não há neutralidade na educação.

O político na educação não é o ideológico-partidário, o político refere-se às ações e intervenções na sociedade, ou seja, possibilidades de mudança concreta na vida das pessoas, portanto, ao analisarmos a proposição e defesa de qualquer política para a educação precisamos considerar a quem ela interessa, o quanto ela contribuirá para a educação cidadã e se ela fortalecerá a nossa conquista histórica: escola para todos e todas.

Professora Maria Claudia de A. V. Junqueira, diretora, conselheira e coordenadora do Encontro dos Representantes de Escola.