Para os docentes, o maior problema nas escolas é evitar as aglomerações e obrigar o uso de máscara

Com o retorno das aulas presenciais, os professores tiveram de acumular uma nova função: a de averiguar se os alunos cumprem ou não as normas sanitárias para evitar o contágio do novo coronavírus. E muitos relatam dificuldades para fazer com que os alunos usem de forma correta as máscaras, o álcool em gel e evitem aglomerações.

“Os alunos só colocam a máscara quando vão entrar na unidade. Se tem alguém cobrando, eles usam normalmente. Caso contrário, é máscara no queixo. Alguns são mais exaltados e até reclamam. Não sei mais o que fazer. Estou realmente com medo de ser contaminado”, afirmou um professor de uma escola na zona norte.

As aulas na rede estadual tiveram início no dia 8 de fevereiro e foram autorizadas para 3 milhões dos 3,3 milhões de alunos da rede. Das 5,3 mil escolas, 4,5 mil reabriram. Todas em sistema de rodízio e recebendo o limite de 35% ao menos até o final deste mês de fevereiro, segundo informou Rossieli Soares, o secretário estadual de Educação, gestão João Doria (PSDB).

O maior problema enfrentado pelos professores é em relação às aglomerações, sobretudo na entrada e saída dos alunos. “Quando chamamos a atenção dentro de sala de aula, eles param. Mais por medo de serem retirados da sala. Dentro da escola o problema acontece nos intervalos. Os alunos comem rápido para depois poderem ficar interagindo”, afirmou um servidor da escola estadual Jardim Odete 3, em Itaquaquecetuba (Grande SP).

Uma professora de uma escola do centro da capital questiona a dificuldade de colocar em prática alguns dos protocolos, inclusive o do distanciamento. “Não houve preparo específico algum. Onde há marcação, tudo bem. Porém, no intervalo, por exemplo, como eu vou saber ao certo se o aluno está a um metro de distância um do outro ou um metro e meio?”

Docentes relatam falta de equipamentos de segurança

Segundo os servidores, problemas estruturais nas escolas também inviabilizam que os protocolos sanitários sejam cumpridos. Na escola estadual Professora Amenaíde Braga de Queiroz, no Jardim Franca (zona norte), os frascos de álcool em gel enviados em fevereiro estavam vencidos, afirmaram professores. Servidores da escola estadual Professor Oswaldo Walder, no Jardim Boa Vista (zona oeste), disseram que não haviam recebido o face shield, usado como complemento da máscara e que protege contra respingos de tosse e espirros na direção do rosto. “Se fico sem um equipamento fundamental para o meu trabalho, como vou chegar num aluno e exigir que ele use a máscara?”, questionou um professor. Na escola professor José Sanches Josende, em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), um vazamento na cozinha produz mau cheiro e incomoda. “É uma água podre que acumula. Detalhe: é uma escola de ensino integral, onde os alunos ficam um dia inteiro”, diz um funcionário.

Solução do conflito pode estar na maior participação dos pais

O pediatra Marcio Nehab, integrante do grupo de trabalho de volta às aulas do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, afirma ser fundamental a participação dos pais no processo. Para Nehab, a postura de uma criança ou adolescente na escola é reflexo do que ele vive fora do ambiente escolar. E aglomerações são quase impossíveis de serem contidas e a única saída é uma postura mais firme dos responsáveis. “Onde muitas dessas crianças e adolescentes estavam durante esse tempo todo que ficaram fora da escola? Estavam nas ruas, jogando bola, nas praças. E estavam mesmo usando máscara? É fundamental um esforço conjunto, sobretudo com a participação dos pais nessa retomada”, diz.

Resposta – Função da equipe é orientar

Em nota, a Secretaria da Educação de SP, gestão João Doria (PSDB), diz ser “função de toda equipe escolar orientar as questões educativas que envolvem o cotidiano escolar”. “Os protocolos sanitários devem ser seguidos não apenas no ambiente escolar e as normas foram definidas por autoridades de saúde e preservam a segurança de professores, servidores e alunos.” Em relação ao álcool em gel vencido, a pasta diz que as escolas realizam a substituição do produto. A secretaria diz também não haver registro de falta de equipamentos de proteção. O vazamento na cozinha da escola estadual Professor José Sanches Josende, no Jardim Aeroporto 3, em Mogi das Cruzes, será reparado na próxima semana, segundo a pasta.