Liliamar Hoça
A análise de alguns temas em educação não é uma tarefa que se encerra na própria questão discutida; ela representa uma parte da complexa situação discutida em determinados tempos. Assim acontece com a progressão continuada, que não se resume no processo educacional constituído pela aprovação ou reprovação dos alunos, pois aponta para uma série de questões sobre a lógica da organização escolar ao longo dos anos.
Implantada em alguns municípios e estados do Brasil, a progressão continuada é um determinante em favor do acesso, da permanência e do sucesso acadêmico dos alunos. É parte do processo de avaliação educacional, em que os alunos avançam sistematicamente nos anos escolares, considerando-se as apropriações realizadas em relação ao conhecimento a partir do seu desenvolvimento cognitivo no transcorrer de determinados ciclos de aprendizagem.
Com avaliação contínua e cumulativa, o processo pressupõe um olhar atento sobre o significado da avaliação da aprendizagem, sendo que os aspectos qualitativos apresentam prevalência sobre os quantitativos, além de se considerar os resultados ao longo de um período – e não exclusivamente os resultados de exames finais.
A progressão continuada não foi apenas uma medida exclusiva de combate aos altos índices de repetência e evasão escolar de nossas crianças e jovens. Ela aponta para a reformulação da concepção de ensino-aprendizagem, dos processos avaliativos, dos programas e classes escolares que não compartilham a segregação de nenhum aluno.
Ela exige a reflexão crítica, baseada no diálogo entre professores e gestores, sobre o processo avaliativo das escolas: o conceito, quando avaliar e para que avaliar. Não podemos falar de avaliação sem que nossos professores possam participar ativamente das discussões sobre os critérios para cada ano escolar e cada competente curricular. São eles que acompanham o desenvolvimento dos alunos e precisam ter segurança em suas análises, as quais devem ultrapassar o olhar apenas sobre o conteúdo, já que é na escola que nossas crianças, adolescentes e jovens aprendem também sobre diferentes modos de viver, participam de vivências culturais, desenvolvem companheirismo, parcerias e habilidades cognitivas.
Instituir a progressão continuada leva à utilização de diferentes instrumentos de avaliação ao longo do processo e, também, modificações na organização das turmas e das estratégias didáticas, além do acompanhamento dos alunos, considerando o tempo de aprender. Além disso, a progressão continuada dos alunos provoca o alargamento dos investimentos em educação – que deveria ser investido na reforma das escolas e na ampliação de espaços, dentro e fora delas, para atender as atividades que devem fazer parte de um currículo pensado diante da diversidade nas formas de aprender.
Para a progressão continuada ser compreendida, é necessário investir na formação do professor, em diferentes modalidades, considerando a carreira e os saberes adquiridos ao longo do desenvolvimento profissional. Mais do que apenas refletir, é necessário ouvir com atenção a voz de todos: dos professores e dos alunos.
Liliamar é professora do curso de Pedagogia e Biologia da Universidade Positivo.