Tive a oportunidade de fazer recentemente uma palestra para uma turma de alunos da última série do ensino médio de uma escola pública estadual da zona sul do Rio. Era véspera das provas do Enem que avaliariam o que aprenderam e o desempenho da escola e alguns de seus professores faziam greve há dois meses. Poucos alunos moravam perto da escola, a maioria na zona norte ou subúrbios. O deslocamento até a escola era um sacrifício e, nos dias em que não tinham aula por causa da greve, uma frustração. Apesar desses percalços, pareciam cheios de energia, atentos, alguns tímidos, mas a maioria bem falante. Tinham entre 15 e 18 anos.

 

Antes de começar a palestra, quis saber deles que profissão cada um pretendia seguir. Apenas uma menina falou com convicção que queria ser médica. As outras respostas pareciam de jovens sem ambição ou expectativa. Os que mencionavam alguma profissão faziam antes a ressalva: “se eu pudesse, eu gostaria de ser…”. Vários disseram que não sabiam o que queriam da vida.

 

A dúvida em relação ao futuro profissional é normal nesta idade. Para aqueles jovens, no entanto, não é um problema provocado pelo excesso de possibilidades, mas de falta de confiança, de já se considerar excluído do mercado. É claro que nesta multidão formada aos trancos e barrancos haverá sempre as exceções dos que não se conformam e conseguem construir histórias de superação e sucesso. Mas serão exceções.

 

O fraco desempenho das escolas públicas no Enem e os indicadores do IBGE deveriam nos envergonhar. Sem uma educação de qualidade, que futuro estes jovens poderão construir?

 

Por Marcelo Beraba, é diretor da sucursal do Rio do jornal O Estado de São Paulo