Rebeca Veras Gonçalves e Amanda Servidoni Evangelista

Falar sobre recomposição de aprendizagem não é algo novo, mas desde o início da pandemia da covid-19, o número de estudantes apresentando lacunas significativas na aprendizagem aumentou. Por isso, o principal desafio do educador hoje é conhecer o cenário da sua sala de aula e, a partir disso, planejar estratégias considerando o desenvolvimento das habilidades e desafiando os diferentes perfis dos estudantes.

Para esse processo, não existe uma única receita, mas é fundamental ter um plano de ação bem definido para enxergar o problema e compreender o objetivo que precisa ser alcançado, e alguns conceitos podem ajudar a nortear o caminho. O primeiro deles é a mitigação das perdas, que visa minimizar os danos causados pela pandemia. E o segundo olha para a recomposição, a partir de 3 propostas de trabalho: remediação, mais conhecida dentro do contexto escolar como recuperação e considera que todos os estudantes precisam de apoio por terem passado muito tempo fora do ambiente escolar; intervenção, processo que acompanha o estudante com dificuldade de aprendizagem; e a aceleração, que diagnostica as lacunas, pensando em cada estudante dentro das suas particularidades.

Entendendo o melhor formato para a escola e o perfil de cada turma, é importante que a escolha do método seja feita com responsabilidade, com foco no objetivo de promover um ensino de qualidade, por meio da aprendizagem significativa.

As principais ações a serem consideradas são definidas em 3 grandes pontos:  avaliação, etapa responsável por diagnosticar e monitorar, o que ajuda na compreensão do que foi consolidado e do que ainda precisa ser desenvolvido; planejamento, para que haja uma priorização, considerando as principais necessidades dos estudantes e o que é fundamental para ser recomposto e desenvolvido no ano em curso – essa etapa pode ser feita a partir dos objetivos de aprendizagem a serem alcançados e as estratégias a serem colocadas em prática ou em redirecionar o que não funcionou, buscando um novo plano de ação; e aplicação, ou execução, de forma consciente e intencional, sem deixar a comunicação e o acolhimento de lado – a prática deve ser voltada para a formação integral para oferecer caminhos diferenciados, que atendam à diversidade da sala de aula e estimulem o protagonismo dos estudantes.

Colocando em prática

Pensando nas séries de transição, entendemos a profundidade das lacunas de cada turma. Para as de alfabetização, por exemplo, é necessário aplicações de sondagens voltadas à leitura e escrita (de forma espontânea), para compreender o nível (pré-silábico, silábico com ou sem valor sonoro, silábico alfabético e alfabético) em que essa criança está inserida e, a partir disso, pensar em propostas de leituras e interpretação de texto, que podem estar contempladas na rotina de sala para garantir o engajamento dos alunos. Para essa faixa etária é fundamental respeitar a maturidade cognitiva e propor situações em que essa criança se sinta à vontade. O desafio precisa ser possível e as sondagens diagnósticas devem permear todo o calendário letivo, de maneira constante, e o professor é responsável pela leitura do cenário da sala para conseguir desenvolver as diferentes potencialidades.

Já para as séries mais avançadas, é fundamental ter uma noção, a partir das habilidades a serem desenvolvidas, se há fundamentações anteriores, tendo em vista a espiralidade prevista pela BNCC. Essas habilidades anteriores serão a sustentação para a proposta do ano em que esse estudante está inserido e, com uma noção do todo, torna-se possível diminuir o distanciamento entre o que precisava ser aprendido e o que precisa ser aprofundado.

Por fim, para garantir um trabalho que minimize os danos causados pela pandemia, é importante que o professor tenha consciência do estudante como um ser integral e que o maior propósito não está diretamente relacionado ao conhecimento cognitivo, mas à garantia de um ambiente seguro e saudável que vai proporcionar interações, espaço de fala e, consequentemente, a compreensão das habilidades.

Rebeca Veras Gonçalves: Formada em pedagogia, especialista em Educação Infantil e Múltiplas Linguagens e Gestão e Coordenação Pedagógica. Atualmente, Especialista de Conteúdo Pedagógico do FOCOS.

Amanda Servidoni Evangelista: formada em História, mestra em Teoria e Historiografia Literária. Atualmente, Analista de Conteúdo Pedagógico do FOCOS