As eleições de 2014 colocaram em discussão, novamente, a promoção automática dos alunos do ensino fundamental. Toda vez que esse tema entra em debate, é importante reler as ideias do grande pedagogo brasileiro Paulo Freire, que foi secretário da Educação em São Paulo. Para ele, o sistema de seleção e avaliação é cruel e leva à exclusão social, além disso, reforça o caráter autoritário do professor como detentor do conhecimento. Ao perder o poder de reprovar alunos e excluí-los da escola, o corpo docente é uma das primeiras vozes a engrossar a crítica ao modelo proposto.
Não se pode esquecer de que algumas crianças têm dificuldades para aprender por diversas razões, como doenças, subnutrição, dislexia, hiperatividade. Ocorre que no passado essas crianças eram simplesmente excluídas da escola, perdendo o contato com as demais, com o professo e, além de tudo, perdendo a merenda, tão importante para a população carente. Esta exclusão leva, sem sombra de dúvida, a um sentimento de humilhação, afetando a autoestima da criança, tornando-a uma presa fácil para a marginalidade social.
Deixa-me pasmo que figuras com abertura intelectual venham a público proclamar aos quatro ventos que seu primeiro ato no governo será acabar com a aprovação automática. “Só passa quem tiver condições”. Parece que a eleição levou inclusive pessoas com sensibilidade social a enveredar pelo caminho fácil da crítica sem fundamento e para a demagogia barata.
É preciso avaliar cada caso antes da decisão drástica de excluir a criança do ambiente escolar, tornando-a socialmente fracassada. Investir mais na escola pública para o acompanhamento de crianças com dificuldades cognitivas seria a solução mais racional, e não o autoritarismo da reprovação.
Ponto de vista de Renato Ladeia é professor de administração do Centro Universitário da FEI
Secom/CPP