Muitos autores deixaram a marca de um intenso relacionamento com São Paulo. Mas, convenhamos, o paulistano que surpreendeu com as suas ideias na semana de 22, lá no início do século 20, talvez tenha sido o mais ousado em expressar a indefectível relação ambígua que temos com São Paulo.
Amamos, mas temos raiva. Orgulhamo-nos, e muito. Mas, na mesma proporção, tem horas que morremos de vergonha dessa cidade.
De qualquer forma, falar de Mário de Andrade e não se lembrar de São Paulo, seu grande amor, é praticamente impossível. E vice-versa. Em Pauliceia Desvairada, o poeta paulistano criou uma explosão de sentimentos, por vezes complexos, ao retratar o íntimo de São Paulo, tão cheia de paradoxos. Se por um lado a vê como uma cidade renovada, que rapidamente consegue se modificar e a declara como “a comoção de minha vida” – por outro, se assusta e a enxerga como a “grande boca de mil dentes…”, pronta a devorar as barreiras que possam dificultar a sua sagaz capacidade de aglutinar todas as etnias e classes sociais.
Quase cem anos após a Semana de 22, o conceito que Mário de Andrade tinha de São Paulo continua inalterável. Pouco ou nada mudou. São Paulo permanece uma explosão de ideias. Uma forma genuinamente brasileira de criar um modelo próprio de inovar. Uma energia pulsante, capaz de renovar a própria vida. Essa é a cara de São Paulo. Para concluir, uma frase do apaixonado poeta paulistano: “Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição”.
A todos os que fazem parte deste inigualável sonho feliz de cidade, feliz aniversário. Parabéns, São Paulo, pelos 460 anos!
SECOM/CPP