A depressão pode ser um prato cheio para a escrita, ainda mais quando acontece de forma autoral. Veja como a escritora Stephanie Caroline colocou sua própria experiência em seus livros, como Diário da Garota em Crise, Para Sempre e 13 Contos de Amor ou Não, e se tornou inspiração para a autoestima e a reviravolta na vida de outras pessoas.

Antes de tudo, Stephanie Caroline, que adora criar protagonistas fortes e que são muito “gente como a gente” lembra: “ambos os livros contêm gatilhos, é impossível isso não acontecer”. Isso porque ela escreveu Diário da garota em crise quando estava, ela mesma, passando por uma depressão, e alguns dos textos de seu blog da época que se tornaram parte de 13 Contos de Amor ou Não.

Ela conta que quando começou a escrever o “Diário”, não sabia que estava em depressão: “eu ainda não tinha o diagnóstico. A ideia era reaproveitar um blog de mesmo nome, que tive em 2013, e contar uma história de amor, tanto que uma das personagens era uma homenagem para um amigo meu. Em 2015, aconteceram várias mudanças e eu não consegui dar continuidade na história, ficou parada, até que, em 2016, fui diagnosticada com depressão ansiosa (a depressão associada ao transtorno de ansiedade)”, revela.

Foi a sugestão da psiquiatra que Stephanie ia à época que a fez retomar a escrita: “um dos conselhos era que eu buscasse atividades que me ajudassem a expressar o que eu estava sentindo, já que não conseguia falar dos meus sentimentos”, conta ela, que lembra: “meu blog já estava a pleno vapor, então, dei continuidade e ia trabalhando em alguns capítulos do ‘Diário’.

Stephanie conta que Ana, a protagonista do livro, sofre em praticamente todos os capítulos: “tudo que pode dar errado, dá, bem ao estilo ‘ela não merece ser feliz’. Na época era um pedido de socorro, uma forma de mostrar que eu estava sofrendo e tudo o que me incomodava, as decisões imaturas tomadas no impulso, numa tentativa de se encaixar e disfarçar (assim como a Ana faz no livro todo)”.

Ela lembra que terminou o livro só em 2018, com quase 2 anos de tratamento. “Hoje eu vejo que a Ana foi a forma que encontrei para mostrar que nem sempre alguém que implora por atenção ou toma decisões imaturas o faz somente por imaturidade, muitas vezes tem algo a mais, é um pedido de socorro mesmo. Sobre a parte do suicídio, eu nunca tentei, mas me inspirei em pessoas próximas que vivenciaram a crise”, revela.

“No Para Sempre, que escrevi em 2019, a ideia era mostrar como a personagem deu a volta por cima e como ela reconhece outras pessoas com depressão”, explica Stephanie. “A Ana está melhor, entende que tem um problema psicológico que precisa de atenção, tanto que vira a principal ajuda da Luana, personagem que enfrenta o mesmo problema, mesmo que em um grau diferente. A Ana seria um exemplo de depressão em um grau bastante elevado, por ter sido negligenciada e ignorar a situação no começo, já a Luana, em Para Sempre, teve ajuda cedo e foi tratada com carinho, não como uma “bobagem” ou “frescura”, como muitos tendem a dizer de uma pessoa em depressão”, finaliza a autora.