O avanço da pandemia em São Paulo atingiu na última semana a maior velocidade desde agosto passado. Na primeira semana após as festas de fim de ano, o estado registrou aumento de 63% no número de casos positivos de Covid-19 e 49% no de óbitos. No período, o número de internações também cresceu 15%. O estado tem hoje 65% dos leitos de UTI ocupados, enquanto no início de dezembro a média era de 40%.

O governador João Doria (SPDB) alertou a população para que evite aglomerações e respeite as regras de distanciamento social a fim de conter o aumento de casos. Mas não disse se deve adotar novas medidas de restrição nos próximos dias. Apesar do aumento, o governo manteve a maior parte dos municípios paulistas na fase amarela do Plano São Paulo. A única alteração foi estabelecer limite de funcionamento para os estabelecimentos não essenciais, que só podem abrir até as 22h nesta etapa.

“Esse aumento que tivemos no número de casos, óbitos e internações nos alerta para uma situação cada vez mais grave e que medidas precisam ser tomadas. Na última atualização do Plano, anunciamos mudanças mais rigorosas e é preciso que as pessoas permaneçam em casa”, disse João Gabbardo, secretário-executivo do Centro de Contingência da Covid no estado.

Nos primeiros dez dias do ano, o governo diz ter criado 250 novos leitos de UTI para os casos graves da doença. Esses leitos haviam sido desmobilizados no ano passado após contenção da pandemia. Com o aumento de casos, Doria destacou a importância de o governo federal acelerar a autorização para o início da vacinação e disse que o estado está pronto para começar a imunização imediatamente. “Temos planejamento, estrutura, organização para iniciar o programa de imunização assim que houver a liberação”, disse ele.

Atualmente, o estado tem 12.530 pessoas internadas com confirmação ou suspeita de Covid-19, 5.364 delas na UTI. A taxa de ocupação desses leitos está em 65,1% no Estado e 66,7% na Grande São Paulo. Desde o início da pandemia, São já registrou 1.549.142 casos da doença e 48.379 mortes.

O governo estadual também divulgou uma reclassificação de fases do Plano São Paulo, em que as regiões de Marília, Sorocaba e Registro regrediram para a fase laranja, juntando-se a Presidente Prudente, que antes estava na fase vermelha. O restante do estado, incluindo a Grande São Paulo, segue na fase amarela. A mudança passou a valer desde esta segunda-feira (11) e vai até 5 de fevereiro.

O médico infectologista Carlos Magno Fortaleza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu, acredita que o aumento dos óbitos é reflexo das aglomerações de fim de ano. “Essa conta não chegou totalmente. O resultado de Natal nós vamos ver mais pra frente”.

Doutora em saúde pública com especialização na Universidade de Johns Hopkins e na Universidade do Sul da Flórida, ambas nos EUA, Carla Domingues é conhecida no meio acadêmico como epidemiologista mais preparada no campo das vacinas, graças à experiência adquirida na coordenação do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde, responsável pela organização da polícia nacional de vacinação dos brasileiros no período de 2011 a 2019.

Segundo ela, é fundamental divulgar as medidas não farmacológicas contra a Covid-19 – lavar as mãos, usar álcool em gel, usar máscaras e manter o distanciamento social. No momento em que a vacinação começar, essas informações serão fundamentais, uma vez que não haverá vacina para todos e a população poderá ter uma falsa impressão de que já estará protegida.

Será de extrema relevância a definição de uma estratégia de comunicação eficiente para deixar claro porque determinado grupo será vacinado e outro não, ou mesmo entre os grupos priorizados, porque a vacinação acontecerá em etapas para evitar uma corrida aos postos de vacinação com aglomerações e possível desabastecimento.

Ela ressalta que, ao mesmo tempo, essa comunicação deverá buscar estratégias para o enfrentamento aos grupos antivacina e das fake news que circulam nas redes sociais, evitando que a população hesite em ser vacinada. Infelizmente, esse tipo de ação nem foi detalhada no Plano de Vacinação contra a Covid-19.

É importante deixar claro que no Brasil, entre os anos de 1940 e 2018, a expectativa de vida ao nascer apresentou um aumento de cerca de 30 anos como resultado, principalmente, da redução de óbitos por doenças infecciosas evitáveis por vacinas. A taxa de mortalidade infantil chegava a mais de 100 crianças mortas para cada 1.000 nascidas vivas, ou seja, praticamente 10% das crianças morriam até os cinco primeiro anos de vida. Em 2018, essa taxa foi de 12,8 a cada 1.000 nascidos vivos.

“Portanto, vacinas salvam vidas”, foi categórica em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, veiculada nesta terça-feira (17).

Nesta segunda (11) o governo apresentou o plano de logística e infraestrutura para a vacinação. São Paulo tem 10,8 milhões de doses para os 645 municípios paulistas. O governo diz já ter organizado 5,2 mil salas de vacinação em todas as cidades. Funcionarão em escolas, estações de trem e metrô, quartéis da Polícia Militar e por drive thru. Para o plano de imunização, 25 mil policiais serão destacados para a escolta e segurança dos locais de aplicação da vacina.

Fontes: Folha de São Paulo/Estadão.