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Desafio ainda é promover equidade de gênero e ampliar presença feminina em cargos de gestão

Do mapeamento do genoma do vírus até o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, passando pela elaboração de testes para detectar a infecção e a comunicação sobre o tema, o trabalho feminino tem se destacado na pandemia. O desempenho das jovens estudantes na escola – unido a outros fatores como as tantas mulheres no meio científico, especialmente num tema de destaque como a pandemia, pode culminar no crescimento relevante do número de pesquisadoras, diz Ana Almeida, professora da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora-adjunta de ciências humanas e sociais da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

“Se as meninas são bem sucedidas na escola, haverá número maior de mulheres na universidade, na pós-graduação e na pesquisa. Já é uma realidade incontornável.”

Chegarão à academia mulheres preparadas e ambiciosas, diz a professora. Há, contudo, uma desafio: garantir que as instituições não ofereçam obstáculos ao avanço de mulheres na carreira científica. Diretora do IMT (Instituto de Medicina Tropical) da USP (Universidade de São Paulo), Maria Cássia Mendes Corrêa lidera uma equipe com presença de destaque de mulheres. “A força feminina na pesquisa na pandemia é expressiva”, diz. Mas ela afirma que ainda falta representação política em comitês, secretariados e ministérios. “É preciso ter impacto em várias linhas de pesquisa.”

Foi no IMT, há um ano, que a dupla de pesquisadoras, Ester Sabino, então diretora, e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda, sequenciaram o genoma do coronavírus 48 horas depois da confirmação do primeiro caso no país. Já é possível observar uma igualdade numérica entre homens e mulheres na graduação e na pós, segundo Soaraya Smaili. Ela é a primeira reitora mulher da Unifesp (Universidade Federal de SP), uma instituição que já tem quase 90 anos. A maior questão, ela diz, é ampliar a presença das mulheres em postos de gestão, desde a coordenação de laboratórios até as reitorias. “Precisamos ocupar mais lugares nos comitês de decisão, mas, ressalto, não basta só ser mulher”, diz.

Objetivo é eliminar gargalos entre gêneros, diz professora

O monitoramento de indicadores é uma importante ferramenta para promover a equidade de gênero na pesquisa, de acordo com Ana Almeida, professora da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora adjunta de Ciências Humanas e Sociais da Fapesp. Entre 2010 e 2019, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo apoiou 61.999 projetos de pesquisa, e apenas 43% deles estavam sob responsabilidade de pesquisadoras mulheres. “Essa diferença tem que ser objeto de estudo para sabermos por que ela acontece.” Uma possibilidade, ela afirma, é a representação desproporcional em áreas específicas.

Um fator importante a ser observado na tentativa de medir a equidade de gênero, de acordo com Ana, é a taxa de sucesso das solicitações. Entre os projetos submetidos por mulheres, 52% deles foram aceitos. Para homens, o número é 54%. Esse indicador, segundo ela, é estável nos últimos 10 anos, mesmo com o aumento do número de solicitações de mulheres.

Entre as ações da instituição para diminuir a desigualdade entre os gêneros estão a prorrogação de bolsas para pesquisadoras quando há o nascimento de uma criança, a flexibilização de datas de entrega para mulheres que sejam mães ou cuidem de familiares e o debate institucional com outras agências de fomento sobre o tema.

Fonte: Agora São Paulo