Foto: banco de imagem/CPP

Algo perceptível a quem acompanha o panorama da Educação Básica no país é, agora, constatado por uma pesquisa realizada pelo Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior), com dados dos Censos do Ensino Superior e da Educação Básica coletados pelo MEC (Ministério da Educação): a profissão de professor já não atrai os jovens e um apagão está a caminho em todas as etapas da Educação Básica nos próximos anos.

O levantamento revela que o déficit de profissionais pode chegar a 235 mil em 2040. Levando-se em conta a taxa atual de 20,3 pessoas com idade entre 3 e 17 anos, para cada docente em exercício na Educação Básica, em 2040, será necessário 1,97 milhão de professores para atender à demanda de alunos na mesma proporção de hoje. No entanto, mantendo as taxas de crescimento de 2021, estima-se que o número de professores diminuirá 20,7% até 2040.

Outro dado importante está relacionado à área do conhecimento do professor. Entre 2016 e 2020, o curso de licenciatura com maior número de concluintes foi pedagogia. Já o curso de formação de professor em educação especial foi o que apresentou maior aumento percentual nesse período. A situação de defasagem é alarmante quando se trata do número de egressos em cursos de formação de professor de biologia, química, educação física e letras.

Com o desinteresse dos mais jovens em seguir o magistério, a projeção é que no futuro as escolas tenham dificuldade para contratar professores. O número de docentes jovens em início de carreira caiu quase pela metade (42,4%) de 2009 a 2021, passando de 116 mil para 67 mil profissionais com até 24 anos. Enquanto o número de professores com 50 anos ou mais e possivelmente na iminência de se aposentar nos próximos anos tem aumentado significativamente, chegando a subir 109% no mesmo período.

Para o professor Azuaite Martins de França, terceiro vice-presidente do Centro do Professorado Paulista e vereador pelo Cidadania, em São Carlos, o processo de precarização da profissão, como a baixa remuneração e a falta de reconhecimento, condições de trabalho precárias, infraestrutura ruim das escolas, falta de equipamentos e materiais de apoio, violência na sala de aula, além de problemas de saúde, agravados pela pandemia de Covid-19, afastou os mais novos da sala de aula. A pesquisa mostra que o número de ingressantes em cursos presenciais de licenciatura diminuiu 37,6% na última década. O sinal de alerta está ligado.

Para completar o quadro preocupante que envolve o professorado no país, a saúde dos educadores foi agravada na pandemia, sendo eles os mais acometidos de burnout, a síndrome de esgotamento físico e mental, apontada por diversas pesquisas como a principal causa de afastamento de professores. Em 2021, menos da metade desses profissionais (47%) avaliou sua saúde mental como boa ou excelente, mais de 34% continuaram reclamando de estresse prolongado e 72% disseram não ter acesso a apoio psicológico para cuidar da saúde mental.

Ao ter acesso a esses dados nesta semana, o atual ministro da Educação, Victor Godoy, disse que a responsabilidade pela valorização da educação brasileira e dos professores não é exclusiva do ministério. Uma forma de eximir o governo federal diante de um assunto que requer um forte empenho da União. Enquanto o MEC seguir agindo como avestruz, fugindo aos desafios que são – sim – da sua competência enfrentar, a crise da educação continuará a ter contornos de um “projeto” do governo central.

“Não por acaso, esses números inquietantes foram divulgados na última semana da campanha eleitoral no 1º turno, quando a educação, desgraçadamente, não esteve na pauta dos candidatos a presidente. Se a Educação Básica é negligenciada, o futuro do país fica comprometido. O tempo urge. Se nada for feito já nos próximos anos, o analfabetismo, a miséria e a desigualdade se aprofundarão”, conclui Azuaite.