João Batista Oliveira

Tudo indica que a ideia do brasileiro cordial nunca passou de uma leitura equivocada da realidade. Na verdade, nossa sociedade sempre foi bastante violenta.

A cada dia surgem novos relatos a respeito de cenas de violência nas escolas, e esta frequentemente está associada ao uso de armas, ingestão de drogas ou bebidas alcoólicas.
 

São também cada vez mais frequentes os relatos sobre aumento do número de professores e diretores agredidos.
 

Em um questionário aplicado pelo MEC em todo o país, 3% dos diretores de escolas públicas afirmaram que alunos frequentaram a escola portando arma de fogo.
 

Quando perguntados se já haviam sido ameaçados por algum aluno, 10% dos diretores responderam que sim, e 3% disseram já terem sido vítimas de “atentado à vida”.
 

Dentre os diretores ouvidos, 18% reportaram que alunos frequentaram a escola sob efeito de drogas e 10% sob efeito de bebida alcoólica.
 

Violência entre alunos é mais comum, mas menos reportada. O fato é que, onde ainda não virou parte do cotidiano, a violência nas escolas tornou-se um evento de alta probabilidade.
 

Tudo indica que a ideia do “brasileiro cordial” nunca passou de uma leitura equivocada da realidade – na verdade, nossa sociedade sempre foi bastante violenta. Violenta em pensamentos, palavras e ações – com intervalos de maior contenção ou repressão.
 

O novo, nessa história, é a entrada da violência em locais antes considerados como “sagrados”. A palavra sagrado significa separado, protegido, respeitado. A escola foi dessacralizada. E ela não está sozinha – praticamente nem os lugares mais sagrados como a família, os monumentos ou mesmo os templos religiosos têm sido poupados. E, ao que tudo indica, não se trata de uma “onda” passageira.  Mas, parafraseando Tolstoy, cada desgraça tem sua história peculiar.
 

A dessacralização da escola – especialmente no Brasil – vem ocorrendo há pelo menos quatro ou cinco décadas. Ivan Illich terá dado sua contribuição – ao denunciar os perigos da escola e promover o conceito de “desescolarização”. Paulo Freire também, ao introduzir a ideia da “pedagogia bancária”, a ideia de que o currículo seria como uma dívida bancária a ser quitada mediante provas escolares.
 

Os professores – antes tratados com respeito e reverência – primeiro passaram a ser chamados de “tia”, depois de “você”, e aos poucos perderam ou abdicaram de sua autoridade de mestre para receber o título de “facilitadores”.
 

O diretor deixou de ser o grão-mestre e representante da autoridade e passou a ser representante eleito pela comunidade.
 

De sujeito de deveres, o aluno passou a ser “portador de direitos” – e, acima de tudo, ele precisa “ser feliz”.
 

A escola perdeu ou abdicou do seu dever de disciplinar – tanto no sentido comportamental quanto no sentido de ensinar as disciplinas. Saudosismo?  Conservadorismo?
 

Fonte: Veja/João Batista Oliveira