Uma pesquisa realizada com gestores de escolas municipais de São Paulo revela descontentamento com as condições de trabalho na rede. No levantamento, 66% dos profissionais responderam que o material didático oferecido pela prefeitura é inadequado e, para 86%, ele é insuficiente. A pesquisa Retrato da Rede é realizada pelo Sinesp (Sindicato de Especialistas de Educação da rede municipal). O levantamento deste ano marca a 12ª edição do estudo, que aborda a gestão de pessoas, apoio técnico da secretaria de educação, capacitação, ambiente físico, equipamentos, saúde e violência. Foram ouvidos 575 gestores. O que representa 11% dos diretores, supervisores e coordenadores da rede. A margem de erro varia entre 3% e 5%.
 

A coordenadora pedagógica Katia Morais, 41, atua na escola municipal de educação infantil Porto Nacional, na Brasilândia, zona norte. Na rede há 13 anos, ela critica o modo centralizado, sem a participação de quem está na escola, na decisão das compras de materiais. “Talvez o que o professor quer e precisa usar aqui, é diferente em outras escolas”, diz ela. “E chega pouca tinta, pouca variedade de papéis para as crianças pequenas. Deveríamos ter mais diversidade de materiais para trabalhar o projeto da escola”. Morais ressalta que a baixa qualidade dos materiais enviados pela secretaria fazem com que tudo acabe rápido, obrigando a direção usar as verbas próprias para reposição. “Aponta o lápis poucas vezes e já quebra, a massinha endurece em alguns dias. Assim temos que repor com o dinheiro da escola, ao invés de investir em outras opções”.
 

Neste ano, a gestão Fernando Haddad (PT) atrasou o envio de materiais pedagógicos para os alunos. A coordenadora ainda reclama da lotação de salas. Na escola dela, as nove salas de pré-escola têm 35 crianças (de 4 a 5 anos). A norma da própria prefeitura prevê o máximo de 29 alunos por sala. Como a Folha de S.Paulo revelou em março, a gestão tem lotado as salas da pré-escola. Nas turmas que atendem crianças de 5 anos, a média está em 32 alunos por sala. Nas de 4 anos, 30 por classe. Na pesquisa do Sinesp, 31% dos gestores responderam que estão em escolas com salas lotadas. Para 66,4% dos gestores, as diretorias de ensino não atendem as demandas das escolas, “em virtude da falta de integração entre setores e despreparo de seu pessoal”, segundo o levantamento. Cerca de 74% dos gestores ainda relatam falta de profissionais nas escolas.
 

Para o sociólogo Rudá Ricci, que coordena o levantamento, os resultados ao longo dos anos mostram uma continuidade dos problemas relacionados às condições de trabalho. Segundo ele, há uma falta, por parte do governo, de disposição de diálogo com quem está na escola. “Muda o prefeito, o partido, mas existe um problema estrutural na rede que continua, que é a ausência de escuta efetiva”, diz ele. “A gestão é autoritária na tomada das decisões, não ouve a rede”. O presidente do Sinesp, Luiz Carlos Ghilardi, chama a atenção para os resultados relacionados à insegurança no local de trabalho. Nos dois últimos anos, 72% dos profissionais ouvidos afirmam que se sentem inseguros. “Temos várias reivindicações em termos de violência, espaço físico e saúde, mas falta vontade de politica e sobra burocracia”. De acordo com a pesquisa, 83% dos gestores afirmaram que sua saúde é influenciada negativamente pelas condições de trabalho na rede. Além disso, 93,5% desses profissionais afirmam que trabalharam com dor ou febre no último ano.
 

O outro lado

A secretaria de Educação não comentou a pesquisa. Argumentou que o diálogo com os educadores está entre as prioridades. Em nota, a pasta afirma que investiu este ano R$ 105 milhões na aquisição de uniforme escolar e R$ 15 milhões em kits de material escolar. “Este ano, foram distribuídos cerca de 850 mil kits”, defende. Sobre a segurança nas escolas, a prefeitura promete que, a partir de agosto, 800 guardas civis metropolitanos serão destacados para dar segurança diária a 300 escolas. “A SME [Secretaria Municipal de Educação] iniciou em 2016 o Programa Paz nas Escolas. Ele consiste na montagem de Comissões de Mediação de Conflitos nas 13 Diretorias Regionais de Educação”.
 

A rede ainda conta, segundo a secretaria, com segurança privada em mais de 550 escolas e em todos os CEUs (Centros de Educação Unificada). A prefeitura também afirma que realizou contratações. “Nos últimos quatro anos foram nomeados quase 17 mil profissionais, entre eles professores de Educação Infantil e do Ensino Fundamental, coordenadores pedagógicos e auxiliares técnicos de educação”.
 

Fonte: Folhapress