Ações para conter abandono e evasão escolar são raras, aponta levantamento em 20 redes públicas

 

Com aulas presenciais suspensas desde março e estudantes com dificuldade de acesso às atividades remotas, há risco de desistência dos estudos.

As ações para conter o abandono dos estudos e a evasão das escolas públicas ainda são “raras” nas secretarias de ensino durante a pandemia, aponta um levantamento feito em 20 redes públicas, divulgado nesta sexta-feira (28).

“Abandono escolar” é quando o aluno desiste de estudar durante o ano letivo, mas ainda está matriculado. Já a “evasão” é quando ele deixa de frequentar a escola e encerra a matrícula. Com aulas presenciais suspensas desde março e estudantes com dificuldade de acesso às atividades remotas, educadores alertam para o risco de desistência dos estudos.

A pesquisa com 16 redes municipais e 4 estaduais aponta que, em geral, os únicos responsáveis para conter a fuga dos alunos são os gestores das escolas e os professores, que fazem a busca pelos estudantes que não estão dando retorno nas aulas.

No entanto, as ações são isoladas e não há um plano articulado com o poder público, aponta o relatório “Planejamento das redes de ensino para a volta às aulas presenciais: saúde, permanência e aprendizado”, feito pelo Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB) Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).

O estudo classifica o risco de evasão como “ponto crítico” da educação durante a pandemia.

“A preocupação neste momento é o jovem saber que ele está sendo pensado, que existe uma preocupação nacional com a educação. Em vez disso, percebo que ocorrem ações pequenas, em termos de escala, e os alunos ficam ouvindo que foi um ano perdido. Aqueles que não têm acesso ao ensino remoto ficam se perguntando se valerá a pena esperar o retorno presencial, que será híbrido”, analisa.


Evasão é ‘desastrosa’ para o país

Claudia Santa Rosa afirma ainda que o custo da evasão é “desastroso” para o país, porque aumenta as desigualdades social.

“É desastroso para o país. Você joga para o espaço a possibilidade de equidade. O desenvolvimento econômico não tem sustentabilidade se a educação não estiver bem, se a população não for preparada e qualificada”, afirma Claudia.

“Uma parcela dos jovens vai chegar a um mercado de trabalho informal, a um subemprego, ou ficar na geração nem-nem, sem uma coisa nem outra, sem concluir a educação básica. Disso vem todas as mazelas sociais envolvidas na questão. É um custo alto, danoso para as vidas de cada jovem”, afirma. Em 2019, quase 11 milhões de jovens de 15 a 29 anos não estavam ocupados no mercado de trabalho e nem estudando ou se qualificando – a chamada “geração nem-nem”, citada por Cláudia.


Saúde e segurança

A análise identificou que metade das redes entrevistadas ainda não definiu protocolos sanitários para a volta às aulas, ou apresentaram estudos “elementares” e ainda não adquiriram produtos de higiene e proteção individual, como máscaras. A outra metade já fez as compras e está na fase de distribuição.

O relatório indica que a maioria das redes planeja ou já fez a compra de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas; e de produtos de limpeza e higiene, como álcool gel e sabonete líquido.

No entanto, metade das 20 redes ouvidas ainda não havia elaborado diretrizes claras sobre a readequação dos espaços escolares e utilização do transporte. Caso o retorno das aulas ocorresse imediatamente, diz o relatório, “não teriam protocolos sanitários satisfatórios para garantir a segurança de alunos e profissionais”.


Diagnóstico de aprendizagem

O estudo aponta que a maioria das redes prevê fazer uma avaliação diagnóstica quando houver a volta às aulas presenciais. No entanto, não está definido o que será feito a partir deste resultado e como serão as aulas no retorno.

Ainda é incerto se haverá uma avaliação única ou se cada escola terá a sua; quem irá elaborá-la; quais serão as séries e os componentes curriculares avaliados; entre outros pontos.

Estratégias para o cumprir o currículo previsto para 2020

Os secretários de educação ouvidos pelos pesquisadores afirmam que será “pouco factível” concluir o currículo escolar previsto para 2020. Por isso, as equipes pedagógicas estão tentando sintetizar o currículo para cada ano, em especial no ensino fundamental.

“A intenção é trabalhar com os estudantes apenas as habilidades foco, ou seja, aquelas avaliadas como essenciais para a progressão do conteúdo — as demais, tidas como complementares, devem ser exploradas no próximo ano”, aponta o estudo.

A maioria das redes já elaborou ou está organizando o currículo para o restante do ano letivo, mas falta planejar a formação dos professores para trabalhar com este novo currículo.


Educação infantil

A educação infantil é uma das etapas mais difíceis de trabalhar conteúdos remotos, porque depende do auxílio de pais e responsáveis ao lado das crianças durante as atividades

Segundo o estudo, são três grandes desafios: a necessidade de um regime de colaboração entre as redes estaduais e municipais que de fato funcione; de oferta de formações aos professores; e de ações de monitoramento das atividades enviadas.

“As entrevistas realizadas apontam para uma certa omissão em parte das redes estaduais, que, por não atenderem a etapa, não recomendam quaisquer caminhos às redes municipais”, afirma o relatório, indicando a falta de colaboração entre as redes.

 
Fonte: G1