Presidente criticou concurso na área da educação promovido com autorização da então presidente Dilma Rousseff, que teria alocado 100 mil profissionais no serviço público
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, na última quinta-feira (16), que “o excesso de professores atrapalha” e que o Estado foi inchado após um concurso feito pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para a contratação de 100 mil docentes. “Não vou entrar em detalhes, mas o Estado foi muito inchado. Não estou dizendo que não precisa de professor, mas o excesso atrapalha”, disse ele a apoiadores do “cercadinho” do Palácio da Alvorada, em Brasília.
Sobre a educação pública, Bolsonaro também afirmou que não existem mais “livros que os pais não gostariam que os filhos tomassem conhecimento na escola e não é pouca coisa, não”. Em seguida, antes de criticar o concurso público e o “excesso” de educadores, o presidente ouviu de um deles: “Tem muito comunismo na escola, tem muito comunista lá dentro”.
Só no Distrito Federal, mais 10 mil vagas de professor da rede pública de ensino não são preenchidas por servidor público efetivo, ou seja, concursado, e estão ocupadas com professores de contrato temporário. Apesar desse contingente de docentes sem direitos trabalhistas, em fevereiro deste ano, havia mais 2.700 vacâncias nas escolas do DF sem nenhum professor: nem efetivo, nem temporário, segundo informações que a Secretaria de Estado da Educação do DF (SEE-DF) prestou ao Sinpro-DF com base na Lei de Acesso à Informação (LAI). Mas, na prática, de acordo com levantamento do próprio sindicato, ao se comparar o número de vacâncias com o de professores do contrato temporário, pode ser mais de 6 mil carências.
No serviço público, segundo o sindicado, “o presidente mente também e o número de trabalhadores efetivos é ainda menor e mais grave”. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o Brasil é um dos países com menos servidores públicos no mundo. O número é sobre o percentual da população total. O Brasil não aparece entre os 15 primeiros na lista da organização.
De acordo com relatório da Education at a Glance 2021, feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado na última quinta-feira (16), o Brasil é um dos poucos países do mundo que não aumentaram recursos para a Educação durante a pandemia do coronavírus, com o objetivo de reduzir prejuízos com aprendizagem e enfrentar os desafios do período. Entre 65% e 78% das nações do planeta elevaram o orçamento para ao menos alguma das etapas da educação básica. O Brasil não destinou, no período, nem um centavo a mais de recursos para nenhum segmento do ensino.
Assista ao vídeo no canal Foco do Brasil; trecho sobre os professores está em 4min18s.
POSIÇÃO DO CPP
O Centro do Professorado Paulista lamenta e repudia a declaração do presidente da República, dita na véspera do centenário do educador Paulo Freire. “Educação é coisa séria e os professores merecem respeito”, afirma a professora Loretana Paolieri Pancera, primeira vice-presidente da entidade. De acordo com a diretoria do CPP, a dificuldade de exercitar o trabalho diário, além de questões como desvalorização, excesso de alunos por classe, sobrecarga horária, desmotivação e baixos salários têm levado o professor a sofrer estresse, depressão, com apatia como consequência.
Com a pandemia da Covid-19, problemas se desencadearam, levando professores de todo o país a trocarem os quadros e as carteiras escolares pelas telas e pelos aplicativos digitais. Um ano e meio após a adoção de medidas de distanciamento social e da interrupção das aulas por causa da emergência sanitária, os professores continuam se reinventando. Neste período, eles foram obrigados a refazer todas as aulas, passar novos exercícios, escrever apostilas, gravar em vídeo os conteúdos das disciplinas, criar canais próprios em redes sociais, mudar avaliações, fazer busca ativa de alunos e se aproximar das famílias dos estudantes.
O suporte da mudança foi a internet, mas o episódio não se restringiu a uma revolução digital. Houve uma transformação comportamental dos professores para não perder a conexão com os alunos e manter a aprendizagem. Segundo o professor Silvio dos Santos Martins, segundo vice-presidente do CPP, a Covid-19 antecipou em uns dez ou quinze anos o que iria acontecer em sala de aulas. ‘Tiveram que aprender algo que nunca foi desenvolvido ao longo da vida de muitos professores, que foi encarar a tecnologia a curto prazo”, diz Silvio.