Hashtag teve mais de 60 mil posts, a maior parte com memes, traduzindo várias insatisfações dos estudantes com a EAD, falta de internet ou de espaço apropriado

 

A hashtag #CANCELAOANOLETIVO2020 é o assunto do momento da rede social Twitter no Brasil. Até o momento, foram mais de 60 mil tweets com o termo. E o número cresce minuto a minuto. O movimento começou quase que por brincadeira, com estudantes fazendo piada sobre as dificuldades que estão enfrentando seja porque estão sem aulas seja porque as aulas a distância trazem desafios demais.

O pedido pelo cancelamento do ano letivo na mídia social está sendo construído por uma série de memes e também por um cartaz que sintetiza reclamações dos estudantes. Falta de internet (ou de internet de qualidade), falta de ambiente apropriado e falta de saúde mental para lidar com a EAD (educação a distância) estão entre as queixas dos alunos.

A posição de entidades estudantis

Diferentemente de várias outras hashtags relacionadas à educação, esta não partiu de associações, como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) ou a União Nacional dos Estudantes (UNE). Iago Montalvão, presidente da UNE, conta que o tema está sendo debatido na instituição que ele representa.

“O principal é que tem de haver uma cobrança do MEC de tomar medidas para socorrer os estudantes que estão desesperados”, alerta Iago. Rozana Barroso, presidente da Ubes, comenta que a entidade está observando o movimento, mas não há uma posição formada com relação à possibilidade de cancelamento do ano letivo.

“Nós, como entidade construída por estudantes, estamos atentos, lendo tudo o que está sendo colocado e estudando. A gente acha que a resposta a esses estudantes precisa vir do MEC (Ministério da Educação)”, cobra.

“O MEC precisa responder sobre tudo isso, o MEC precisa responder sobre que tipo de saída vai ter para os estudantes. E nós não estamos tendo respostas”, lamenta Rozana. “Um dos motivos de os estudantes estarem aflitos é o não posicionamento do MEC.”

Campanha por inclusão digital

A falta de internet ou de equipamentos e de conexão de qualidade está entre os motivos de queixas de estudantes no Twitter e é também pauta de uma campanha da Ubes, chamada “Internet para geral”. A associação tem se mobilizado para que vire lei a oferta de internet gratuita como direito dos estudantes durante a pandemia.

O objetivo é mitigar os efeitos da desigualdade no acesso à educação e à informação, intensificada durante a crise de covid-19. Rozana, presidente da Ubes, argumenta que o acesso a internet é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um direito humano no século 21. Assim, ser privado desse direito é ser impedido de exercer a cidadania.

“Cobramos do MEC o avanço da democratização digital que deve trazer uma solução para garantir esse direito dos alunos”, observa Rozana. Em muitos casos, a escola era o único lugar onde estudantes tinham acesso à internet e, mesmo assim, com problemas.

“Quando a gente fala do avanço tecnológico, a gente sabe que as escolas públicas não acompanham o avanço. Quando tem laboratório, o computador não funciona, é muito velho, o técnico não é pago…”, elenca Rozana, que é estudante de cursinho pré-vestibular popular.

A Ubes soube de muitos casos de estudantes que não têm como estudar e de outros que não conseguiram nem se inscrever no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) por falta de internet.

Segundo pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 58% dos domicílios no Brasil não tinham computadores e 33% não dispunham de internet em 2018. No estado de São Paulo, o governo divulgou que o Enem 2020 teve 12% a menos de inscrições de estudantes da rede pública.

A exclusão digital pode estar entre os motivos, além da diminuição ou da falta de contato com professores, que eram importantes agentes de divulgação do exame, agindo para sensibilizar os alunos da importância de fazer a prova. 

 

Fonte: Correio Braziliense