Seria cômico se não fosse trágico o fato de alunos da rede pública do estado mais rico da federação chegarem ao último ano do ensino médio sem dominar as quatro operações básicas da matemática. Para muitos desses estudantes, uma simples conta de somar pode parecer um complicado problema de álgebra. Lamentavelmente, é sabido que muito dessa deficiência se deve à falta de professores nas salas de aula das escolas estaduais.
Já que estamos falando de aritmética, vamos aos números que retratam a atual condição do ensino público no estado. Prepare-se para tomar um choque. De acordo com um levantamento entregue ao Ministério Público, as 5.760 escolas da rede têm um déficit de 49.085 professores efetivos, o que equivale a 21% dos cargos necessários. Para atender os alunos, o governo se socorre de um batalhão de 49 mil docentes temporários, o que, entretanto, ainda assim é insuficiente. A conta não fecha e o resultado é vergonhoso. No fim do primeiro semestre, a rede estadual tinha 48, mil turmas sem aula de alguma disciplina. Fazendo um cálculo pela média, é como se quatro em cada cinco escolas tivessem turma sem professor. A maior necessidade é de professores de matemática, com um déficit de 10.508 efetivos.
A situação é mais complicada na capital e na região metropolitana. Pior ainda na Zona Leste. Somente lá, há o registro de 203 turmas que estavam sem professor de matemática. Ainda que a Secretaria argumente que há professores substitutos nos casos das faltas, não é a realidade que se vê nas escolas. Segundo depoimento dos próprios alunos, algumas escolas chegaram a ficar seis meses sem um professor efetivo de matemática, o que nos leva a imaginar que o ano letivo foi completamente perdido neste conteúdo. Não é preciso ser educador ou pedagogo para perceber que esse estado de coisas tem impacto direto na capacitação dos estudantes da rede pública do Estado.
Qualquer solução mágica ou decisão política para a educação tem pouca efetividade sem o professor dentro da sala de aula, cumprindo seu papel. O que não se pode admitir é esse aparente cenário de desresponsabilização da secretaria em relação aos professores que faltam e dos professores em relação aos alunos.
Deficiências nas condições de trabalho, baixa remuneração, problemas na infraestrutura das escolas e existência de muitos professores com contratos de trabalho temporários são algumas das razões que contribuem para agravar o problema. Cabe ao poder público encontrar a melhor forma de equilibrar essa equação, sob o risco de nossas crianças continuarem achando que tudo está certo como 2 + 2 são cinco.
Editorial desta segunda-feira do Diário de São Paulo
SECOM/CPP