Cidades e escolas paulistas decidiram adiar o retorno alegando não considerar seguro reabrir as unidades ou pelo pouco tempo que tiveram para planejar as mudanças necessárias.
Pelo Plano SP, cidades que estivessem há pelo menos 28 dias na fase amarela, a terceira na escala de cinco gradações da quarentena, poderiam abrir instituições de ensino privadas e públicas para aulas de reforço e acolhimento de estudantes a partir de 8 de setembro e para aulas regulares em 7 de outubro.
No entanto, houve pouca adesão ao cronograma previsto pelo estado, algo visto com preocupação pela equipe de Doria, já que o desalinhamento mostra falta de confiança na análise do centro de contingência do coronavírus em São Paulo.
A capital paulista e as cidades do ABC foram os primeiros a anunciar que não seguiriam o cronograma. Na última semana, cinco municípios —Itu, Sorocaba, Itapevi, Ribeirão Preto e Cotia— formalizaram a autorização para que escolas particulares retornassem, mas decidiram deixar as instituições públicas fechadas.
Segundo o governo estadual apenas 128 dos 645 municípios paulistas —menos de 20%—, comunicaram que também iriam autorizar algum tipo de retorno.
Sorocaba anunciou que aulas presenciais na rede municipal só voltam em 2021, mas liberou as escolas particulares para reabrir já nesta terça (8). Porém, como a liberação só foi anunciada no último dia 27, as escolas afirmam não terem tido tempo hábil para se organizar.
“Queremos voltar, mas foi muito pouco tempo para comunicar as famílias, identificar quantos vão voltar. Então vamos precisar de pelo menos mais uma semana para nos organizar”, disse Edgar Delbem, diretor regional do sindicato de escolas particulares da região de Sorocaba e mantenedor dos colégios Veritas.
O colégio Uirapuru, também em Sorocaba, montou uma força-tarefa para viabilizar a reabertura no dia 8. “Já havia feito a consulta às famílias e sabia que apenas um terço pretende voltar à escola, por isso, foi possível organizar a tempo”, disse Arthur Fonseca, diretor da unidade.
A liberação apenas para a rede particular também foi anunciada em Ribeirão Preto. A prefeitura chegou a informar que a reabertura das escolas municipais seria inviável em setembro em razão das adequações necessárias e já avalia que as aulas presenciais em suas unidades só voltem em 2021.
Como a autorização foi publicada na última segunda (31), a maioria das escolas particulares também decidiu não voltar dia 8. “O prefeito liberou, mas disse que não recomendava a abertura. Isso nos deixa inseguros porque transfere a responsabilidade para os colégios.
As famílias e professores também ficam sem confiança”, disse João Alberto Velloso, diretor regional do sindicato.
Para ele, o planejamento da reabertura não envolve apenas a compra de materiais e adequações físicas para o distanciamento social, mas um mapeamento com as famílias interessadas. “O mais trabalhoso e demorado é identificar quantos alunos vão voltar, e só vamos conseguir isso quando as autoridades públicas transmitirem segurança para o retorno, o que não está acontecendo.”
Prefeituras da região metropolitana de Campinas descartaram a presença de alunos nas escolas antes de 15 de setembro mesmo para atividades de reforço e decidiram submeter aos pais a decisão sobre uma eventual volta às aulas nas escolas públicas e particulares em 7 de outubro.
Embora cada município mantenha sua autonomia, a região optou por coordenar as decisões sobre a volta às aulas. Via Câmara Temática de Educação, os secretários municipais de Educação protocolaram um relatório com demandas e metas para que as escolas possam ser reabertas.
Resultado preliminar divulgado nesta sexta (4) pela prefeitura de Campinas indicava que 82% de 15 mil pais que haviam respondido ao questionário disseram que não mandariam os filhos para a escola. “Essa maciça manifestação dos pais e pelas conversas individuais que tive com pequenos grupos de professores me mostrou essa insegurança”, afirmou o prefeito Jonas Donizette (PSB).
Ela lembra que Campinas desmobilizou seu hospital de campanha para pacientes de Covid-19 e avalia que, se houver um surto com a volta às aulas, não haverá estrutura de atendimento. “O aprendizado pode ser recuperado, mas a vida não.”
Antônio Francisco dos Santos, diretor regional da Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) em Campinas, defende um modelo híbrido, com algumas escolas reabrindo e outras se mantendo fechadas —algo a que o secretária estadual da Educação, Rossieli Soares, se opõe.
Segundo ele, cerca de 30% dos pais, principalmente os com filhos no grupo infantil, querem que as aulas voltem. “Mas a grande maioria, dentro das pesquisas, prefere que não haja volta enquanto não houver uma vacina ou um remédio”, diz.
“Nossa visão é que, o prefeito, estando dentro da fase amarela e dos protocolos, deveria deixar os pais que quiserem levar seu filhos, que levem, e as escolas que quiserem abrir, que abram. A escola decide junto com sua comunidade. A liberdade deveria ser o caminho.”
Limeira também anunciou que não retoma as aulas presenciais neste ano. Segundo a prefeitura, a decisão foi tomada com base em indicadores como velocidade de contaminação, ocupação na rede hospitalar e inquérito sorológico, bem como pareceres dos sindicatos dos professores e das escolas particulares.
Pesquisa realizada com familiares de alunos da rede municipal também pesou na decisão. Segundo a prefeitura, das 10 mil pessoas que responderam ao levantamento, 88% se manifestaram contra o retorno das aulas presenciais em 2020.
Outras grandes cidades que descartam retornar já são Bauru —a prefeitura teme uma explosão de Covid-19, após testagem de professores mostrar que 11% estão contaminados, a maioria com vírus ativo— e São José dos Campos, que permitiu atividades de reforço sob o limite de 35% de ocupação da escola.
10 milhões de alunos estão matriculados nas redes públicas e particular no estado de SP
Apenas 128 dos 645 municípios decidiram reabrir as escolas para acolhimento nesta terça, após 171 dias fechadas
31.091 óbitos por Covid foram registrados em SP até sexta (4), embora a disseminação desacelere
Fonte: Folha de São Paulo