Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro – CBL- é o nosso convidado a explanar a respeito do setor editorial brasileiro. Suas informações precisas a respeito do assunto nos ajudam a compreender o comportamento dos consumidores de livros em nosso País.

Portal CPP – O senhor tomou posse como presidente em 2015. Quais foram as suas metas de gestão?

Luís Antonio Torelli – Minha visão, desde que assumi a presidência da Câmara Brasileira do Livro, é a de elevar o livro e a leitura a novos patamares. Para isso, devemos apostar na união do estado e da sociedade, firmando a CBL como agente articulador para a construção da política do estado para a leitura.

 

Numa de suas publicações, o jornal inglês The Economist classifica o Brasil como o país de não leitores. Como a CBL pode ajudar a reverter este problema. Qual a raiz desta mazela?

Temos alguns dados interessantes revelados pela Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, com apoio da CBL, cuja nova edição deve sair no início de maio. Os dados de 2011, data do último levantamento, revelam, por exemplo, que o brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, dos quais somente 2,1 são lidos por inteiro. Metade da população, ou cerca de 88,2 milhões de pessoas, costuma ler. Desse percentual, 53% são mulheres e 43% homens. A entrevista reuniu mais de cinco mil participantes de 315 municípios. Foi realizada pelo Ibope Inteligência. Paradoxalmente, “Ler bastante pode fazer uma pessoa vencer na vida e melhorar sua condição socioeconômica”, responderam 64% dos entrevistados. Para melhorar esses índices, acreditamos na criação de projetos como leituras em parques, levando o livro para mais perto do público e, também, no apoio, valorização e estímulo à realização de feiras de livros.

Atualmente, como se encontra o setor editorial brasileiro frente ao mercado mundial?

O setor editorial está sofrendo os efeitos da crise política e econômica sem precedentes que o Brasil vem enfrentando. Tivemos um aumento de 24% no preço do papel em fevereiro – seguido de um aumento de cerca de 12% aplicado no final de 2015. O setor não consegue repassar todo esse aumento ao consumidor e acaba absorvendo parte dele reduzindo seus custos como pode, muitas vezes às custas de postos de trabalhos.Além disso, as editoras vêm enfrentando sérios problemas decorrentes da falta de pagamento por parte do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no tocante aos livros adquiridos para o programa do PNBE Temático 2015. As 36 editoras participantes estão enfrentando sérias dificuldades para pagar fornecedores, impressão e insumos referentes à produção dos livros – já produzidos, porém ainda não pagos pelo governo.

Como a CBL promove o livro brasileiro nas feiras internacionais?

Temos um projeto em parceria com a Apex-Brasil, o Brazilian Publishers, que visa difundir e promover a internacionalização da produção editorial brasileira. Focamos nossos esforços nas principais feiras internacionais mundiais – Bolonha, Guadalajara e Frankfurt – para as quais levamos editoras e facilitamos a realização de negócios. Nesse ano, a Feira do Livro de Bolonha, a mais importante do segmento infantil e juvenil, realizada de 4 a 7 de abril, teve a participação de 15 editoras brasileiras, que obtiveram resultados de US$ 470 mil na venda de livros físicos e direitos autorais. O número, que superou a estimativa inicial de US$ 300 mil, corresponde aos negócios fechados e à expectativa para os próximos 12 meses.

Como está o mercado editorial nacional ?

A Pesquisa FIPE 2014 sobre Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro traz dados importantes sobre a performance do setor editorial e de seus subsetores. As editoras brasileiras venderam ao mercado 277.387.290 livros em 2014, representando um decréscimo de 0,81% na comparação com os 279.662.399 exemplares de 2013. Já as vendas de exemplares ao governo tiveram decréscimo de 20,97%, saindo de 200.307.911 em 2013 para 158.302.867 em 2014. Avaliamos, portanto, que quanto ao faturamento, o crescimento nominal do setor editorial brasileiro, considerando mercado e governo, em 2014, foi de 0,92%,com R$ 5,40 bilhões, ante R$ 5,36 bilhões no exercício anterior. Esse percentual significa um crescimento real negativo de 5,16%, considerada a variação de 6,41% do IPCA em 2014. Contudo, desconsideradas as vendas feitas ao governo, o crescimento nominal foi de 7,33%. Isso significa que, em termos reais, as vendas ao mercado apresentaram um leve crescimento, de 0,86%. Em termos de produção de títulos, a pesquisa mostrou que houve queda em 2014, da ordem de 2,26%: foram 60,82 mil títulos, ante 62,23 mil em 2013. O número de exemplares, porém, teve alta de 7,17%. Em 2014, foram impressos 501,37 milhões de livros, contra 467,83 milhões em 2013.

O que faz acentuar a indiferença do povo brasileiro pelo livro?

As respostas passam, inevitavelmente, pelo investimento que é feito em estudo, pela falta de vontade política, pelo processo de alfabetização tardio e pela própria cultura do povo brasileiro, mais oral do que textual. Resgatando dados históricos vemos que as crianças brasileiras passaram a ser alfabetizadas de maneira obrigatória apenas em 1930. E o processo de escolarização se iniciou mais tarde ainda, nos anos 60. Na mesma época, o país entra na era do audiovisual, com TV e cinema. Ou seja, pulamos do analfabetismo direto para o audiovisual. Não conseguimos, assim, formar uma cultura de leitura.

O que os educadores paulistas podem esperar da CBL para 2016?

Educação é fundamental para o incentivo à leitura. Dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil mostram que os professores foram apontados pelos entrevistados como os principais incentivadores da leitura. Em seguida, foram mencionadas as mães. A criança estimulada a ler pela família e pela escola se torna, sem dúvida, um adulto leitor.