O Movimento Outubro Rosa ganhou o mundo para chamar atenção à prevenção ao câncer de mama e ao diagnóstico precoce.

A história do movimento teve início nos EUA, na última década do século 20, quando o laço cor-de-rosa foi distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, Nova York, em 1990.

A popularidade do Outubro Rosa agrega diferentes países em torno da causa. No Brasil, a primeira iniciativa foi a iluminação em rosa do Obelisco do Ibirapuera, na capital paulista, em 2 de outubro de 2002.

O CPP abraça a causa abrindo espaço à informação, um dos principais agentes do diagnóstico precoce.

A especialista convidada a dar esclarecimentos é a Dra. Maira Caleffi, mastologista e Presidente Voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – FEMAMA.

Portal CPP: No Brasil, cerca de 70% das mulheres com a doença são submetidas à mastectomia, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). O que é preciso fazer para esse número diminuir?

Dra. Maira Caleffi
: No câncer de mama, uma das coisas mais importantes é promover o diagnóstico precoce, que permite chegar a 95% de chance de cura. Além disso, se identificado precocemente, o tratamento do câncer de mama pode ser muito menos agressivo, não precisando, em alguns casos, fazer mastectomia e nem quimioterapia.
Com o objetivo de preservar as mamas, a medicina já disponibiliza novas técnicas para retirar tumores e poupam as mulheres de risco maiores e de complicações mais graves. Como agem esses procedimentos? O tratamento conservador da mama já é uma técnica utilizada há mais de 30 anos. As chances de controle da doença para tumores pequenos são iguais às da mastectomia (retirada total da mama). Como complemento à cirurgia de preservação da mama, faz-se necessário o tratamento complementar da radioterapia que, hoje em dia, evoluiu muito.

Com o apoio de diagnósticos cada vez mais precisos, após a descoberta do câncer, qual o prazo médio do tratamento?

O tratamento deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico completo identificando o tipo do tumor e de exames para avaliar o estágio da doença (doença só na mama, mama e gânglios axilares ou em outros órgãos). O tratamento de cada paciente é único e varia muito de acordo com o momento em que o diagnóstico é confirmado e quando se inicia o tratamento. No Brasil, temos a Lei dos 30 Dias, que estabelece que exames para a confirmação do diagnóstico de câncer devem ser realizados em até um mês. Seu objetivo é o diagnóstico precoce, o que aumenta as chances de cura, além de diminuir o impacto na gestão de pacientes oncológicos, com menos tratamentos, gastos e processos judiciais. A Lei dos 60 dias prevê que, após o diagnóstico, o tratamento deva ser iniciado em até dois meses. A atuação da FEMAMA é justamente para ampliar o acesso ágil e tratamento adequado para pacientes com câncer de mama e exigir que essas leis sejam cumpridas, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS).

O diagnóstico precoce tem a grande capacidade de detectar o câncer de mama bem no começo com expressiva possibilidade de cura. Qual a periodicidade adequada de exames?

A campanha de Outubro Rosa da FEMAMA deste ano refere-se à importância do diagnóstico precoce. Com a proposta de disseminar as chances de cura da doença, autoconhecimento e fatores de risco, criamos o mote “3 perguntas que salvam #perguntapraela”. “Você já marcou seus exames anuais?” é uma das 3 perguntas da campanha. É importantíssimo que as mulheres façam acompanhamento médico e exames anuais, se conheçam, observem as suas mamas com frequência, além de estarem atentas aos seus fatores de risco para o câncer.

A redução dos efeitos colaterais da quimio e radioterapia é um fato?

Sim, já é possível diminuir bastante os efeitos colaterais e o impacto da quimioterapia, tanto antes quanto ao longo dos ciclos de tratamento. A radioterapia tem se modernizado e, hoje, dependendo do tamanho da mama, idade da paciente e parte da mama afetada, pode ser feita no período de alguns dias, em um menor número de sessões.

No Outubro Rosa, mês engajado na prevenção do câncer que mais mata mulheres no Brasil, quais são as suas orientações e sugestões para as mulheres que desejam se precaver?

Esperamos que todos possam participar da nossa campanha de Outubro Rosa e fazer as três perguntas que salvam às mulheres que amam: 1.Você tem observado suas mamas? 2.Você já marcou seus exames anuais? 3. Você conhece seus fatores de risco? Essas três perguntas incentivam o autocuidado e atitudes que podem auxiliar no diagnóstico precoce do câncer de mama. Para quebrar o tabu, a campanha desse ano quer falar também com homens e jovens, para que façam as “3 perguntas que salvam” para as mulheres de suas vidas.
Uma em cada 12 mulheres terá câncer de mama no Brasil, sendo 66 mil só em 2020. As brasileiras já conhecem o que é o câncer de mama e já ouviram falar sobre a mamografia, mas isso ainda não despertou a cultura do autoconhecimento e nem do acompanhamento médico anual. Precisamos do engajamento de todos para incentivar o diagnóstico precoce e salvar milhares de mães, esposas, filhas, amigas.

Maira Caleffi MD PhD
Mastologista / Chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre – RS / Presidente Voluntária Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – FEMAMA e Instituto da Mama do RS / Líder do Comitê Executivo do City Cancer Challenge Porto Alegre – RS