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Profissionais argumentam que atividade não é essencial e que expõe funcionários a risco de infecção por vírus

 

Diretores de escolas das redes estadual e municipal de ensino de São Paulo reclamam de não terem sido liberados de suas atividades em meio à crise do coronavírus. Os profissionais se queixam de estarem realizando função de ‘vigilantes’ das unidades e de estarem expondo suas equipes a risco de contaminação.

 

Na semana passada, tanto o governo estadual quanto a Prefeitura de São Paulo decretaram a antecipação das férias para professores e auxiliares da educação. Na última sexta-feira (20), a Secretário da Educação de São Paulo, Rossieli Soares anunciou que o recesso se estenderia apenas aos agentes de organização escolar (AOEs) a partir desta segunda-feira (23), por dez dias. A resolução foi publicada no Diário Oficial do estado.

 

Em vídeo publicado em rede social, o secretário diz que os diretores e gerentes de organização escolar devem continuar exercendo suas atividades. “Temos que fechar folha de pagamento e uma série de procedimentos, se não, acabamos prejudicando outras milhares de pessoas. Mas sempre em horários e em número de pessoas reduzidos, para minimizar ao máximo qualquer risco”, afirmou.

 

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo diz que as medidas adotadas para reduzir os riscos de infecção pelo coronavírus são avaliadas pelas autoridades de saúde e que visam restringir ao máximo a circulação de pessoas sem a paralisação total do serviço público. “Os gestores podem adotar o regime de home office previsto no decreto nº 59.283 e portaria nº 24/SG, reduzindo ainda mais o número de servidores e mantendo apenas dois profissionais por unidade educacional.”

 

Fechamento das escolas

Diretores de escolas municipais e estaduais ouvidos pelo jornal Agora São Paulo, que preferiram não se identificar, temem a propagação do vírus entre os funcionários e suas famílias com a ininterrupção das atividades e ameaçam fechar as portas das escolas a partir da próxima semana, mesmo sem a a autorização das secretarias.

 

“A equipe gestora e administrativa precisa continuar indo às escolas sob pena de desobediência. Então, aqui estou hoje com meu filho de cinco anos, pois ele não pode ficar com a avó de mais de 70 anos”, diz uma diretora da rede municipal. A diretora de uma EMEI da zona norte da capital diz que vai dispensar toda a equipe restante a partir da próxima semana caso a liberação não seja feita pelo poder público.

 

“Tudo está fechando e nós, equipe gestora, vamos ficar de vigilantes dentro da escola, cuidando do patrimônio? Não posso permitir a exposição da minha equipe ao risco de contaminação. Muitas pessoas fazem deslocamentos grandes, e o risco de transmissão? Se não nos liberarem , vamos levar a chave da escola até o gabinete do secretário. Vou assumir todas as responsabilidades legais.” “Ouvimos a argumentação de que precisamos responder documentos, dar andamento a processos. As pessoas não estão entendendo a situação. Talvez alguns de nós não voltemos para responder esses documentos”, critica a educadora.

 

Um diretor da escola municipal, na região do Ipiranga, diz que também vai fechar a escola a partir desta segunda-feira (23) caso nada seja feito até lá. “É uma decisão de um grupo de diretores. Não estão dando a mínima para resguardar nós, gestores, o quadro de apoio, os terceirizados, pessoas que estão diretamente sob nosso comando. Não podemos simplesmente obedecer ordens que são estúpidas, de pessoas que não têm responsabilidade sobre o outro.”

 

Medidas

O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) e o vereador Celso Giannazi (PSOL) protocolaram, na última sexta-feira (20, representações na OMS (Organização Mundial da Saúde) e na OIT (Organização Internacional do Trabalho) solicitando providências para os profissionais da educação. “[A exigência de trabalho dos profissionais da educação] caracteriza um verdadeiro desvio de função, colocando em risco a saúde, a segurança e a vida desses servidores”, diz o deputado Carlos Giannazi.

 

“A forma como está redigida a resolução da Secretaria Estadual faz supor que, se for considerado necessário, mais membros da equipe podem ser convocados, inclusive professores. Não aceitamos isso!, diz a deputada professora Bebel (PT). Além da suspensão total das atividades do quadro da educação, incluindo terceirizados, as entidades (CPP e Apeoesp) defendem o pagamento em dia e sem cortes a todos os profissionais da educação estadual e aos professores eventuais, que não terão aulas.

 

CPP encaminha ofício à Secretaria da Educação

A diretoria do CPP, diante da grave situação e da necessidade de medidas preventivas ao contágio do Covid 19 (novo coronavírus), e diante do desencontro das informações do Governo do Estado, na última sexta-feira (20), requereu ao Secretário da Educação, Rossieli Soares, o fechamento de todas as escolas estaduais, diretoria de ensino e demais órgãos pertencentes à Seduc. Assim, a entidade orienta os associados que “caso não haja determinação do seu superior hierárquico, permaneçam em sua residência”.