Muita gente não sabe mas 18 de fevereiro é comemorado o Dia Nacional de Combate ao alcoolismo. O Brasil é um país que ingere álcool excessivamente, um dos maiores consumidores especialmente de cerveja, expressivamente consumida por adolescentes. A Kantar Worldpanel pesquisou e revelou que só o consumo de cerveja cresceu entre os brasileiros, de 62,3% para 63,4%, em dois anos, de 2016 a 2018. De fato, é a preferência nacional, com 60% do total de álcool consumido.

O assunto é bem preocupante. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avaliou o consumo mundial de álcool e concluiu que o Brasil bebe quase 30% a mais do que a média dos 194 países. Se entre adultos os números do consumo de álcool chamam a atenção, reconhecer que o álcool é a droga legal mais consumida por adolescentes no Brasil e em todo o mundo simplesmente apavora.

“O consumo de álcool prejudica o desenvolvimento cognitivo, emocional e social do indivíduo. E, não raramente, o uso de álcool na infância e adolescência está associado a outros comportamentos de risco, como o uso de tabaco e drogas ilícitas, atividade sexual sem proteção e acidentes automobilísticos.” (Portal PEBMED)

Por acreditar que o assunto merece um alerta especial aos professores, o Portal CPP ouviu a opinião de especialistas sobre o consumo de álcool entre crianças e adolescentes.

Veja o alerta de Elaine Camarini, psicóloga com especialização em aconselhamento familiar, diretora do Faces e Vozes da Recuperação no Brasil:

“Vivemos numa época em que é socialmente e pretensiosamente permitido e lícito ingerir álcool com 18 anos ou mais. Temos plena convicção que o álcool é a porta de entrada para o uso de outras drogas. A maioria da nossa sociedade convive com alguém que faz uso abusivo do álcool e sente na pele as consequências desse uso. Vivemos uma época extremamente difícil para orientarmos nossos adolescentes sobre os males causados pelo uso do álcool, uma vez que o uso é sinal de status e entrada para tribos. Então, só nos resta pensar em um programa de prevenção e campanhas eficazes contra os apelos da mídia.” 

Eduardo Luiz da Rocha Cesar, especialista em dependência química e fundador da Clínica Movimente, ressalta a importância de falar do Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo aos educadores e do uso inteligente do exercício físico. 

“A primeira coisa, neste dia tão importante, é falar do exemplo. Nós, professores, devemos ser exemplo dentro de casa e para os nossos alunos. Antes de falar, olhe para você, veja a sua relação com o consumo do álcool. Parece bobagem, mas não é. As escolas, as universidades precisam ter um caráter de promoção de saúde relacionada ao combate ao uso de álcool em todos os setores desde o fundamental até o ensino superior. Uma das opções que poderíamos pensar é no uso inteligente do físico, promovendo saúde e distanciando o aluno, a criança, o adolescente, o jovem dos ambientes onde o álcool está livre. É protegê-los neuroquimicamente. Se desde criança você percebe e sente no seu corpo o poder que o exercício físico tem para trazer prazer, provavelmente no futuro você usará essa ferramenta para não se envolver drasticamente no consumo pesado, que possa se tornar uma dependência de álcool.  Acho que a informação sobre o consumo de álcool deve vir desde os primeiros anos da vida escolar. Você, professor, tem uma fundamental função. Além de seguir o currículo, você precisa ser exemplo de promoção de saúde, de levar os alunos a entenderem a importância do exercício físico.”

Alex Carrão, consultor em dependência química pela UNIAD – Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da UNIFESP e acompanhamento terapêutico  na universidade, acredita que  o importante para o educador é a informação. 

“É importante levar para dentro das escolas a orientação de especialistas com apresentações, palestras. O aluno não tem nenhuma dificuldade de adquirir bebidas alcoólicas. De  14 a 17 anos é difícil o adolescente ter alguma informação, exatamente na idade que o consumo é expressivo. Há ainda a questão do medo. Na rede pública, o educador tem medo da violência de alguns alunos. Na rede particular, o problema é o receio de perder a matrícula. Não abordar o assunto do consumo do álcool inclui esse fator, também.”

Sunamita Venancio Rodrigues, psicóloga, diretora da clínica Sul Med e pesquisadora na área da Dependência Química, cobra a criação de projetos sociais dentro das escolas:  

“O consumo do álcool por adolescentes, bem sabemos que se tornou uma questão de saúde pública, mas espera-se muito hoje em dia um acolhimento principalmente daqueles profissionais da área da educação, por serem as pessoas que mais passa o tempo com nossos adolescentes. Este não é o papel dos educadores, mas dos gestores do nosso governo, e da criação de projetos sociais dentro das escolas pelos diretores das escolas com o apoio dos professores, junto com uma equipe de assistência social e psicólogos.  Imaginem na grade escolar uma disciplina sobre questões sociais, sendo administrada por profissionais da área da saúde? Pois bem, desta forma trabalharíamos com a prevenção de eventuais agravamentos no processo saúde/doença.
Diante do nosso cenário educacional, nossos professores podem fazer o primeiro processo de acolhimento quando notam um aluno diferente diante da turma. O acolhimento seria a observação deste comportamento e uma escuta para encaminhar ao órgão Público como CRAS e CAPS AD”.