Conversar sobre sustentabilidade dentro da sala de aula é a primeira etapa para proteger o futuro

A iminência de atitudes que visam à autocura e ao equilíbrio do planeta estão cada vez mais presentes. Alertas para os perigos climáticos e atitudes errôneas que aceleram a destruição do ecossistema motivam o Centro do Professorado Paulista a colocar em pauta a urgência de se ativar a Educação Ambiental em sala de aula.

Quem conhece muito bem o tema é Marizane Piergentile, diretora de educação das unidades do ABCDM e Baixada Santista do Colégio Adventista, que explica a relevância do assunto e a necessidade de ser exposto na escola.
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O conselho de Larry Fink, gestor da Blackrock e um dos maiores investidores do mundo, para que países e empresas encarem a mudança do clima como risco de negócio não está surtindo efeito. Em seu relatório mais importante da última década sobre o tema, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a ONU prevê que a temperatura global pode aumentar em 1,5 grau já na próxima década. Concretizada, a marca levará à falência ecossistemas inteiros. “O relatório do IPCC é um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU, informou a IstoÉ Dinheiro, edição de 13 de agosto de 2021.

Mais informação alerta acerca da devastação climática: Em 1990, o robô Voyager 1 tirou uma fotografia do planeta Terra de uma distância de seis bilhões de quilômetros, e a mesma parecia um mero pontinho azul. O famoso astrônomo Carl Sagan denominou a foto como “O Pálido Ponto Azul”, levantando a reflexão sobre a responsabilidade que temos de cuidar uns dos outros e do nosso planeta.

Exatos 31 anos após a imagem, o mundo está em estado de alerta vermelho. Nos últimos dois meses, enquanto o frio extremo atingia o sul do Brasil, vários países do Hemisfério Norte registraram recordes de calor, e no mesmo mês, chuvas fora dos padrões inundaram cidades na China e na Alemanha provocando centenas de mortes. A pauta central que preocupa as autoridades é o impacto das ações humanas que estão sufocando o planeta.

Conversar sobre sustentabilidade não é novidade, apesar de ser um tema que possui muita teoria e pouca prática. “O futuro que estamos montando para os jovens e crianças deve ser reavaliado, e a educação é a principal ferramenta para nos ajudar a colocar a mão na massa”, aponta Marizane Piergentile, diretora de educação das unidades do ABCDM e Baixada Santista. “É essencial apresentar pautas sobre educação ambiental aos pequenos, ajudando-os a criar desde cedo uma linha de consciência ecológica para que no futuro se tornem profissionais bem preparados para lidar com assuntos ambientais dentro das empresas”, reflete.

A educação ambiental pode existir e ser permanente daqui para frente, mas para isso é necessário um plano de ensino que prepare os professores para ter essa conversa dentro da sala de aula. “A partir de agora é de extrema importância que os governos trabalhem para disponibilizar materiais didáticos sobre o tema para todas as regiões, além de aplicar investimentos na infraestrutura escolar para que possamos acolher essa discussão”, explica a diretora.

Não é tarde para entender que é dever de todo cidadão e cidadã buscar por informações sobre o ambiente que vive, afinal de contas, faz parte da lei natural do planeta. Ao pesquisar sobre esse tema, as noções de sobrevivência são captadas instintivamente, abrindo a consciência para novas formas de pensar que contribuem para a preservação da única casa que conhecemos: o pálido ponto azul.

Portal CPP: Como preparar os professores, especialmente os das redes públicas, para debater o tema em sala de aula?

Marizane Piergentile: O professor da rede pública já tem dentro da carga de trabalho o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), que são horários exclusivos apenas para capacitação e planejamento dentro da própria escola. Então, a coordenação e a direção da escola podem criar dentro dessa rotina, que já é semanal, um momento para essa discussão. Debater constantemente com os educadores, criar rotinas dentro do colégio que favoreçam a questão ambiental, não só a conscientização, mas também a rotina. Por exemplo: “eu uso muito descartável?”; “o que eu faço com o papel que eu não vou usar mais?” etc. O ponto chave é criar ações começando pelos funcionários e professores para tornar prática essa conscientização.

Em relação aos livros didáticos, enquanto o governo federal não tomar a iniciativa, como facilitar o ensino de um tema tão importante?

A maioria dos livros didáticos já contempla esse assunto, pois está na nossa matriz curricular. Entretanto, é necessário ir além disso. Quando nós pensamos na utilização dos livros, precisamos pensar no reuso deles, se todos são necessários, e já pensar também que parte deles já poderia ser digital. Na Rede Adventista, nós já temos um sistema de avaliação e atividades por aplicativo, onde o aluno não utiliza papel, abrindo espaço para uma consciência ambiental.

Quando o estudante faz uma avaliação nesse aplicativo, algumas correções já são automáticas, o que também gera facilidade para o professor, assertividade na correção, e uma inteligência artificial que encaminha para o aluno um reforço dentro da questão na qual ele não foi bem, como por exemplo, link de vídeos, exercícios complementares, e assim por diante. Portanto, em termos de conteúdo dentro do material didático, acredito que seja mais uma questão de foco para o conteúdo, do que sobre a presença do conteúdo no material.

Fora da sala de aula, que tipo de atividades podem  impulsionar a conscientização para a importância da sustentabilidade?

Fora da sala de aula, a conscientização sobre o meio ambiente precisa estar no cotidiano do ambiente doméstico do aluno. Por exemplo: “eu cuido da árvore que tem na calçada da minha rua?”; “eu posso ter algum espaço para plantação na minha casa?”; “o que eu faço com os produtos que eu tenho dentro de casa que podem ser reciclados?”; “quanto tempo eu gasto no banho?”.

Sempre podemos utilizar o conteúdo que já está dentro da grade curricular e transformar em uma conscientização sobre qualquer assunto, então não seria diferente para o ambiental. Se eu for contar uma história que envolve um poço de água, posso incluir a interdisciplinaridade. Posso falar do consumo interno e externo da água, do uso responsável, do reuso, do tempo que eu gasto no banho, o que eu faço com a água da máquina de lavar etc. Trazer para dentro de casa e para o bairro.

Essa consciência é criada a partir da escola, porque é ali que o aluno passa pelo ambiente de aprendizagem por 4 horas por dia pelo menos, e a rotina ambiental deve entrar na rotina da escola, assim como entram os outros projetos, como por exemplo contra o bullying, o espaço feminino, as minorias, e assim por diante.