Educação não significa só passar pelas etapas e níveis previstos em lei, significa estar conectado à vida. Educação não é preparação para vida, é a própria vida. A crise sanitária provocada pelo coronavírus deixou clara a importância da Educação no enfrentamento da pandemia e, também, para pensarmos qual sociedade queremos, ou seja, precisamos da educação, da cultura, do conhecimento.
 

Nesse momento de isolamento, os profissionais da educação foram chamados a continuar seu trabalho junto aos estudantes e a mantê-los engajados nas atividades virtuais, apesar dos muitos entraves e do sucateamento das escolas públicas.
 

As escolas se organizam da melhor forma possível para garantir aos estudantes a continuidade da aprendizagem, como, por exemplo, a E.E. Professor José Scalvi de Oliveira, em Amparo. Os profissionais da educação e os estudantes estão organizados em grupos no WhatsApp para desenvolver o conteúdo previsto na grade mensal indicada pelo governo. Além disso, eles têm um blog destinado à comunicação com a comunidade escolar. Nele são postadas as aulas online e todas as atividades propostas pela equipe de professores e professoras da escola. Um belo exemplo a ser seguido e mantido, mesmo com o fim do isolamento.
 

Existem falhas no teletrabalho? Existem, mas elas não podem ser imputadas aos educadores e educadoras: o teletrabalho não chega a todos os estudantes, a maioria não tem computador, muitos não têm celular e, para aqueles que têm, não é nada fácil estudar no campo de visão diminuto do celular, muitos profissionais não estão preparados para trabalhar com as mídias online ou para mediar o ensino por meio das ferramentas digitais. E isso não é só da escola pública, na particular também.
 

Entretanto, um dos maiores problemas é o ritmo do trabalho imposto pelo governo. Mais uma vez, as entidades representativas do magistério, os professores e professoras não foram consultados sobre como desenvolver o teletrabalho, qual o conteúdo a ser abordado, em que tempo e como seria avaliado. As escolas não são iguais, os estudantes não aprendem no mesmo ritmo e os profissionais da educação têm diferentes níveis de conhecimento e contato com as tecnologias digitais e suas linguagens. Esse distanciamento por parte das autoridades do real, do chão da escola, talvez seja o maior problema do projeto do teletrabalho.
 

O sucateamento que a escola pública enfrenta há décadas no Estado de São Paulo toma uma proporção maior frente a mudança radical do espaço escolar que agora se amplia. O teletrabalho expõe a necessidade de mudanças qualitativas na educação pública:
 

A valorização do salário e carreira do profissional de educação para que possam não só adquirir as ferramentas tecnológicas como se preparar para usá-las. A todos e todas deve ser garantida a escolha dos cursos preparatórios para o uso dos meios digitais, aquele que mais se adequa ao seu perfil profissional e grau de conhecimento sobre o assunto.
 

A escola precisará rever seus objetivos, agora, durante o teletrabalho e na volta às aulas presenciais. Caso contrário, professores e estudantes ficarão mais estressados do que já estão. A fantasia de que professores e professoras podem ser substituídos pela educação a distância deve ser enfrentada. Ela precisa estar inserida no dia a dia da escola e planejada pela equipe escolar para ser um apoio à aula presencial.
 

Foi preciso vivermos uma pandemia para deixar claro o lugar central dos profissionais da educação. Eles são os mediadores do processo ensino e aprendizagem, conhecem seus estudantes, desenvolvem cotidianamente seu trabalho, o olho no olho, e respiram a vida da comunidade. E educação é isso: não é preparar para o futuro, é a própria vida. Os profissionais da educação tem que ser parte ativa do processo, agora, no teletrabalho e na volta ao ensino presencial.
 

O retorno à escola exigirá uma preparação muita cuidadosa, será preciso resgatar o que professores, professoras e estudantes viveram durante o período da pandemia, analisar os problemas e soluções encontradas pelas famílias para enfrentar o período e, só a partir daí, reorganizar o processo de ensino e aprendizagem.
 

As atividades educacionais não poderão ser retomada de onde pararam, as escolas precisam planejar o acolhimento, a recomposição de relações e a recuperação do conhecimento que ficou enfraquecido, e o governo precisará pensar no apoio adicional aos professores e professoras.
 

Na organização da volta às aulas as entidades da categoria e os profissionais da educação precisam ter uma participação ativa e, no centro da discussão e planejamento, o propósito principal precisará ser como garantir a equidade.
 

Maria Cláudia V. Junqueira, coordenadora do Encontro de Professores Representantes de Escola